Barroco

Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Barroco é um estilo artístico que surgiu no século XVI, atingindo o seu auge no século XVII. Começou nas artes plásticas e depois se estendeu à literatura e demais expressões artísticas, como a arquitetura, a música e o teatro.

O movimento sucedeu o Renascimento e surgiu como uma reação à Reforma Protestante. Seu objetivo era trazer novamente à arte e à cultura as ideias do teocentrismo (Deus no centro de todas as coisas).

As obras barrocas focavam-se em temáticas religiosas e promoviam uma visão dualista entre o sagrado e o terreno. Algumas de suas características principais eram os exageros na ornamentação e as emoções exacerbadas que dominavam a razão.

Na pintura, as obras barrocas foram marcadas pelos contrastes entre luzes e sombras, com algumas técnicas célebres como o chiaroscuro. Já no campo literário, os autores usavam inúmeros recursos estilísticos como alegorias, hipérboles e antíteses, além de jogos de palavras e associações de ideias inesperadas.

O que vai encontrar:

Arte barroca (artistas e obras)

As obras barrocas geralmente ilustram passagens da Bíblia, da história da humanidade ou cenas mitológicas. Era comum os artistas barrocos estamparem seus trabalhos em paredes e tetos de igrejas ou palácios. O cotidiano da burguesia e da nobreza, classes das quais provinham os mecenas (patrocinadores da arte) e a maioria dos artistas, também era tema recorrente nas pinturas.

Abusando do virtuosismo e do exagero ornamental, os artistas barrocos buscavam surpreender os observadores com a engenhosidade com a qual compunham suas obras. Daí a utilização de inúmeros artifícios estéticos, como técnicas de ilusão de profundidade, chiaroscuro e riqueza de detalhes, por exemplo.

Conheça alguns artistas e obras mais marcantes da época:

Peter Paul Rubens (1577 – 1640)

Considerado um dos mestres da pintura barroca, Rubens nasceu em Siegen, uma cidade que integrava o Sacro Império Romano-Germânico e hoje faz parte da Alemanha. Suas obras representavam alegorias e cenas da mitologia, com grande dramatismo e um tom de sensualidade.

O rapto das filhas de Leucipo
O rapto das filhas de Leucipo (1618), de Rubens (1577 – 1640).

Diego Velázquez (1599 – 1660)

O pintor espanhol integrou o estilo barroco e serviu de inspiração para artistas de movimentos posteriores, como o Impressionismo e o Realismo. Suas obras representavam sobretudo cenas históricas, retratando figuras de renome, incluindo a própria família real espanhola.

As Meninas (1656), de Diego Velázquez (1599 – 1660)
As Meninas (1656), de Diego Velázquez (1599 – 1660).

Rembrandt (1606 – 1669)

Nascido na Holanda, o pintor é considerado o maior artista do seu país. Sua obra se caracteriza pelo movimento e intensidade e é lembrada, sobretudo, pelos retratos e pelas telas que representavam episódios bíblicos ou mitológicos.

A Ronda Noturna (1642), de Rembrandt (1606 – 1669)
A Ronda Noturna (1642), de Rembrandt (1606 – 1669).

Caravaggio (1571 – 1610)

O artista italiano foi uma das maiores influências da corrente barroca, inspirando criadores que viviam na sua época e outros que surgiram muito tempo depois. Suas telas se caracterizavam pelas cores escuras e representavam principalmente temas da Bíblia.

Muitas vezes, as obras de Caravaggio provocavam o choque, reproduzindo cenas violentas e representando as camadas mais marginalizadas da sociedade.

A Vocação de São Mateus (1600), de Caravaggio (1571 – 1610)
A Vocação de São Mateus (1600), de Caravaggio (1571 – 1610).

Artemisia Gentileschi (1593 – 1653)

A pintora romana é uma das mais relembradas nos tempos atuais. Retratando principalmente as figuras femininas da Bíblia, em cenas com grande carga dramática, ela foi a primeira mulher a integrar a Academia de pintura de Florença.

Judite Decapitando Holofernes, c. 1620
Judite decapitando Holofernes (1620), Artemisia Gentileschi (1593 – 1653).

Antoon van Dyck (1599 – 1641)

Nascido em Antuérpia e celebrado principalmente pelos seus retratatos, o artista foi altamente influenciado por Rubens, que considerava o seu mestre.

Sansão e Dalila (1630), de Antoon van Dyck (1599 – 1641)
Sansão e Dalila (1630), de Antoon van Dyck (1599 – 1641).

Características do Barroco

  • Dualismo, o culto do contraste, das contradições. As obras barrocas mostram uma constante e angustiante luta entre forças opostas: o bem e o mal, Deus e o Diabo, luz e trevas, etc.
  • Recorrência de temáticas religiosas e cenas da mitologia.
  • Contraste entre luz e sombra, conferindo intensidade dramática e profundidade na arquitetura e, em especial, na pintura (chiaroscuro).
  • Formas rebuscadas, virtuosismo, ornamentação exagerada.
  • Na literatura, o cultismo ou gongorismo utilizava um vocabulário culto, erudito, invertendo a ordem das frases e exagerando nas figuras de linguagem (metáforas, antíteses, hipérboles).
  • Conceptismo: jogo de ideias, associações inesperadas e argumentações sutis, utilizando silogismos, sofismas e paradoxos. É uma característica muito comum na literatura barroca, principalmente na prosa.

Barroco na literatura (principais autores)

A literatura barroca, assim como as artes plásticas, se dedicou à dualidade e aos conflitos internos entre o divino e o profano, a alma e o corpo. Focada em temas religiosos, falava sobre o pecado e as tentações da vida material, preocupando-se com a chegada da morte a possibilidade de salvação divina.

Assim, alguns de seus temas mais recorrentes eram a passagem do tempo e a fragilidade da vida. Como tudo era fugaz e nascido para morrer, este estilo tecia duras críticas à vaidade humana, encarando-a como algo fútil, já que aquilo que realmente importava era o espírito e não a matéria.

Empenhadas em despertar as emoções do leitor e sensibilizá-lo para estas questões, as obras desta época se caracterizaram pela valorização da forma, com o uso de uma linguagem rebuscada. Recorriam também a inúmeros recursos estilísticos como antíteses, metáforas, alegorias e hipérboles, além de jogos de palavras (cultismo) e associação de conceitos (conceptismo).

Confira, abaixo, alguns dos autores que marcaram a literatura barroca:

  • Luis de Góngora (Espanha)
  • Francisco de Quevedo (Espanha)
  • Sor Juana Inés de la Cruz (México)
  • Gregório de Matos (Brasil)
  • Padre Antônio Vieira (Portugal/Brasil)
  • Soror Mariana Alcoforado (Portugal)
  • Lope de Vega (Espanha)
  • Calderón de la Barca (Espanha)
  • Baltasar Gracián (Espanha)
  • Giambattista Marino (Itália)
  • John Donne (Inglaterra)
  • André Félibien (França)

Contexto histórico do Barroco

O Barroco surgiu no século XVI, na Itália, e estendeu-se até ao começo do século XVIII. Com o tempo, o movimento foi se difundindo por outros territórios como França, Espanha, Portugal e Brasil. Seu aparecimento foi fortemente influenciado pelo contexto histórico e cultural da época, posicionando-se como uma resposta às mudanças que ocorriam.

No século XVI, a Igreja Católica sofreu um grande golpe com a Reforma Protestante promovida por Martinho Lutero. A Reforma, iniciada na Alemanha, recebeu apoio de grande parte da burguesia mercantil e de setores importantes da nobreza, e rapidamente se espalhou pela Europa. Em pouco tempo, metade da cristandade havia se convertido ao protestantismo.

A reação católica tem início com a realização do Concílio de Trento (1545 – 1563). Foi aí que se definiram as bases da Contrarreforma, movimento de resposta da Igreja de Roma à Reforma protestante.

Para frear o avanço do protestantismo, o Concílio instituiu o retorno do Tribunal do Santo Ofício (ou Santa Inquisição). Livros reprovados pela Inquisição foram proibidos, e as pessoas que questionaram os dogmas e a autoridade católicas, rigorosamente punidas. Foi o caso de Copérnico, Galileu Galilei e Giordano Bruno, entre muitos outros.

A Companhia de Jesus enviou seus missionários para os novos territórios conquistados nas Grandes Navegações. Na América, África e Ásia, os jesuítas catequizaram os povos nativos, no intuito de retomar o crescimento do catolicismo.

A época da Contrarreforma, deste modo, foi caracterizada por um intenso dualismo. De um lado, os avanços promovidos pelo humanismo clássico, o Renascimento, como o racionalismo e a valorização do prazer ("carpe diem"). De outro, a opressão religiosa, com a renúncia à liberdade de pensamento e aos prazeres carnais.

O Barroco, então, como a "arte da contrarreforma", foi profundamente marcado por este conflito entre a herança do antropocentrismo renascentista e a retomada do teocentrismo medieval.

Barroco no Brasil

O Barroco foi o primeiro movimento artístico com expressão no país, logo após a chegada dos portugueses, no período colonial. Deu-se, inicialmente, a partir da catequese dos povos originários pelos padres jesuítas. O barroco brasileiro, portanto, está diretamente relacionado ao ibérico, sobretudo ao espanhol.

A produção artística do barroco brasileiro tem suas primeiras representações no século XVII, com o estabelecimento da colonização portuguesa. O povoamento e domínio europeu se deu por meio da implementação da monocultura do açúcar no Nordeste e, posteriormente, ao ciclo do ouro mineiro. Ambas as atividades eram baseadas na escravidão.

Os principais nomes do estilo barroco no Brasil foram:

Gregório de Matos Guerra (1636 – 1696)

gregório de matos

Nascido na Bahia em 1636, o advogado Gregório de Matos é considerado o primeiro poeta do Brasil, assim como um dos principais representantes do estilo Barroco no país.

Filho de colonos portugueses abastados, iniciou os estudos no Colégio Jesuíta baiano. Para dar continuidade à educação, mudou-se para Portugal, onde se formou no Curso de Cânones da Universidade de Coimbra.

Gregório viveu por muitos anos em Portugal, exercendo cargos públicos. Quando retornou ao Brasil, foi nomeado desembargador. Em seguida, após receber as ordens menores, foi nomeado tesoureiro-mór da Sé, cargo do qual foi logo destituído.

O poeta, então, começou a utilizar a sua pena para satirizar a sociedade local. Sua poesia satírica, extremamente corrosiva, criticava a todos, sem distinção: nobreza, burguesia mercantil, nativos, escravizados e até mesmo a Igreja. Essa postura crítica lhe rendeu o apelido de “Boca do inferno”, que o acompanha até hoje.

Por conta da sua rebeldia, Gregório de Matos foi degredado para Angola, onde viveu algum tempo. Por ajudar as autoridades portuguesas a desbaratar um motim na colônia africana, foi-lhe concedida a permissão para regressar ao Brasil, mas não para a Bahia. O poeta, então, transferiu-se para Pernambuco, onde faleceu, em 1696.

Além dos poemas satíricos, Gregório de Matos também escreveu poemas religiosos, líricos e eróticos. Sua obra tem grande influência de escritores barrocos espanhóis, como Quevedo e Góngora. Deste último, imitou o gosto pelo cultismo, o jogo de palavras que lhe é característico.

Vejamos, a seguir, um dos mais conhecidos poemas de Gregório de Matos Guerra. Este soneto, inclusive, serviu de inspiração, séculos mais tarde, para outro poeta baiano, Caetano Veloso, compor a canção Triste Bahia:

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Padre Antônio Vieira (1608 – 1697)

padre antónio vieira

Antônio Vieira foi um padre jesuíta, escritor e orador nascido em Portugal em 1608. Sua obra é considerada uma das mais emblemáticas da literatura brasileira e portuguesa do século XVII.

Como missionário Jesuíta, Vieira viveu muitos anos no Brasil (onde faleceu, em 1697), atuando na catequização dos povos nativos. Aqui consolidou sua obra, escrevendo muitos dos seus famosos Sermões.

Defendeu durante toda a vida os direitos dos indígenas, dos judeus e dos escravos. Neste sentido, pregou a abolição da escravatura, criticando os governantes coloniais e até mesmo a poderosa Inquisição.

Além de sermões, Vieira também escreveu poesia, teatro e obra profética, que deixou incompleta. Sua obra é caracterizada pelo jogo de ideias, pela argumentação sutil, intrincada e erudita. Possui grande influência, portanto, do conceptismo desenvolvido originalmente pelo escritor espanhol Quevedo.

Vejamos, em seguida, o trecho de um de seus trabalhos mais conhecidos, o Sermão da Sexagésima. Nele, o autor associa a figura do catequizador à do semeador:

[...] Será pela matéria ou matérias que tomam os pregadores? Usa-se hoje o modo que chamam de apostilar o Evangelho, em que tomam muitas matérias, levantam muitos assuntos e quem levanta muita caça e não segue nenhuma não é muito que se recolha com as mãos vazias. Boa razão é também esta. O sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos géneros de sementes, senão uma só: 'Exiit, qui seminat, seminare semen'. Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há-de ter uma só matéria, e não muitas matérias. [...]

Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho" (1730 – 1814)

aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido pelo apelido, "Aleijadinho", foi importante arquiteto e escultor brasileiro do estilo Barroco. Ganhou o apelido por ser acometido por uma doença degenerativa, que gradualmente lhe deformou o corpo.

Pouco se sabe, ao certo, de sua biografia. Nasceu e morreu em Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais), na época do ciclo do ouro mineiro. Teria sido amigo, inclusive, de figuras importantes do Arcadismo brasileiro, como o poeta Cláudio Manuel da Costa, que teria sido uma espécie de tutor do artista.

Suas obras abarcam entalhes em madeira, esculturas, relevos e projetos arquitetônicos de fachada de igrejas. A Igreja de São Francisco, em São João del-Rei (MG), é uma de suas obras mais relevantes.

Seu estilo, sob a égide do Barroco e do Rococó, é único, graças a sua formação autodidata, longe das academias (escolas de arte). Por isso mesmo, é considerado por muitos como o maior artista colonial brasileiro, e um dos maiores expoentes da arte barroca ocidental.

Resumo sobre o Barroco

Aspecto Descrição
Origem e Período Surgiu no século XVI, na Itália, e atingiu o auge no século XVII. Expandiu-se para outras artes além das plásticas, incluindo literatura, música, teatro e arquitetura.
Contexto Histórico A resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante incentivou o retorno do teocentrismo. No Concílio de Trento, a Igreja reafirmou seu poder, lançando a Contrarreforma e combatendo o protestantismo por meio de missões jesuíticas e da Inquisição.
Temas Principais Dualidade entre sagrado e terreno; conflito entre o bem e o mal; contraste entre luz e sombra; efemeridade e fragilidade da vida; busca da salvação e crítica à vaidade humana.
Características do Barroco Uso exagerado de ornamentação; contraste de luz e sombra (chiaroscuro); temas religiosos e mitológicos; linguagem rebuscada; cultismo (jogo de palavras) e conceptismo (jogo de ideias).
Barroco na Literatura A literatura barroca abordava o conflito entre o divino e o profano, a efemeridade e o pecado. Uso de linguagem erudita e figuras de linguagem, como metáforas, antíteses e hipérboles. Temas como passagem do tempo, vaidade e vaidade humana são recorrentes.
Principais Autores na Literatura Luis de Góngora, Francisco de Quevedo (Espanha); Sor Juana Inés de la Cruz (México); Gregório de Matos (Brasil); Padre Antônio Vieira (Portugal/Brasil); Lope de Vega, Calderón de la Barca, Baltasar Gracián (Espanha); Giambattista Marino (Itália); John Donne (Inglaterra).
Barroco no Brasil Primeiro movimento artístico brasileiro, com início no século XVII. Fortemente influenciado pelo barroco ibérico, focado na catequese pelos jesuítas e financiado pela elite colonial. Destaque para Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira na literatura e Aleijadinho nas artes plásticas.

Bibliografia:

  • BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, 50ª ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
  • KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. São Paulo: Cajuína, 2020.
  • WOLFFLIN, Heinrich. Renascença e Barroco. São Paulo: Perspectiva, 2010.

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Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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