As 8 principais características do Arcadismo (explicadas)

Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

O Arcadismo, ou Neoclassicismo, propõe um regresso idealizado à natureza e à vida simples do campo, em oposição aos exageros do Barroco. Inspirados pela poesia clássica greco-romana, os árcades valorizam o equilíbrio e a serenidade, exaltando o bucolismo e o pastoralismo.

A linguagem é simples e racional, refletindo a harmonia com a natureza e o desejo de fugir do cenário urbano (fugere urbem). No Brasil, o movimento inclui poesias líricas, épicas e satíricas, que exprimem uma rotina tranquila e natural, em contraste com as transformações sociais da época.

Imitação da natureza

Enquanto o Barroco é proeminentemente urbano, o Arcadismo prega o retorno à natureza. Os poetas árcades a natureza de maneira simples, emanando harmonia, aos moldes da poesia pastoril clássica.

Valorizam o "homem natural", ou seja, o homem que se espelha na serenidade, no equilíbrio da natureza, repudiando os excessos e os conflitos tão caros aos escritores barrocos.

Os árcades, portanto, enquanto neoclássicos, inspiraram-se nos modelos greco-latinos e renascentistas que consideravam a arte como imitação da natureza.

No entanto, observa-se que a exaltação das belezas naturais e a simplicidade da vida no campo eram assuntos totalmente opostos à realidade vivenciada naquela época.

A revolução industrial começa a provocar um forte êxodo rural, no qual as pessoas saem interior para trabalhar nas cidades, a procura de melhores serviços e recursos.

[...] Enquanto pasta alegre o manso gado,
minha bela Marília, nos sentemos
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza. [...]

(Tomás Antônio Gonzaga)

Retomada dos modelos clássicos

A arte produzida durante o período clássico (Grécia e Roma Antiga) e Renascentista serviu de inspiração para os autores árcades. Por conta disso, é marcante a presença da mitologia greco-romana nas obras deste estilo.

Os lemas do Arcadismo, por exemplo, na forma de expressões latinas - locus amoenus (lugar ameno), fugere urbem (fugir da cidade) são trechos retirados de poemas pastoris clássicos, a maioria de odes do poeta romano Horácio.

Além disso, os árcades também utilizavam sonetos, forma poética muito utilizada por poetas renascentistas.

Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.

Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me, ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pode fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura.
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.

(Cláudio Manuel da Costa)

Bucolismo e Pastoralismo

O bucolismo, ou seja, a descrição de cenas onde o homem simples do campo vive em harmonia com a natureza, é uma das características mais importantes do arcadismo.

Os árcades buscam expressar a ideia de uma vida tranquila, amena e natural, onde o caos das cidades é substituído pelos cenários bucólicos do campo.

Assim como o bucolismo, o pastoralismo também se refere ao modo simples, ingênuo e tranquilo que o personagem é apresentado. É feita uma associação constante aos pastores de ovelhas e o modo como estes vivem, do ponto de vista dos autores neoclássicos.

O pastoralismo é representado através da adoção de uma identidade pastoril pelos poetas, com pseudônimos inspirados em nomes gregos ou latinos.

A linguagem racional, simples e clássica é característica dos poemas neoclássicos, ou seja, sem qualquer tipo de rebuscamento no vocabulário.

Fingimento poético

Por serem obras produzidas, em sua grande maioria, a partir de pseudônimos, na poesia árcade era comum, portanto, o fingimento poético.

Esse fingimento consiste, em suma, na expressão de emoções que não são próprias do poeta, mas sim simulações ou imitações de sentimentos baseados em modelos clássicos e renascentistas.

Ausência da subjetividade

Os artistas do arcadismo seguem uma "fórmula" para produzir os seus poemas, onde há a presença de uma musa para ser louvada (amor respeitoso), um pseudônimo pastoril (personagem que vive no campo) e como pano de fundo um cenário bucólico.

Desta forma, não há espaço para a externalização dos sentimentos do autor, mas sim a representação do ideal de vida simples e campestre que os árcades valorizavam.

Poesia lírica, épica e satírica

No Arcadismo brasileiro, percebemos a recorrência de dois gêneros de poesia: lírica e épica.

Os textos líricos contêm as características básicas dessa escola literária, como a exaltação do campo, a presença de uma musa inspiradora, a harmonia com a natureza, o pastoralismo, o bucolismo, etc.

Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das flores,
O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o subtil Nordeste
Os torna azuis: as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste;

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
estes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

(Bocage)

Já os poemas épicos se diferenciam por retratar fatos históricos, onde o destaque está na ação heroica de determinado personagem ou nação, por exemplo.

Caramuru: Poema Épico do Descobrimento da Bahia

De um varão em mil casos agitado,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu o Recôncavo afamado
Da capital brasílica potente:
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.

Santo Esplendor, que do grão
-Padre manas
Ao seio intacto de uma Virgem bela;
Se da enchente de luzes Soberanas
Tudo dispensas pela Mãe Donzela;
Rompendo as sombras de ilusões humanas,
Tu do grão caso! a pura luz revela
Faze que em ti comece, e em ti conclua
Esta grande Obra, que por fim foi tua. [...]

(Santa Rita Durão)

No Brasil ainda é identificado um terceiro gênero: satírico. Este é representado pela obra Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, nas quais o autor, sob a proteção de um pseudônimo, faz uma série de críticas ao governo de Minas Gerais da época.

Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta. [...]

(Tomás Antônio Gonzaga)

Oposição ao Barroco

A simplicidade pretendida pelo Arcadismo era totalmente oposta ao estilo artístico anterior, o Barroco. Este era baseado em contrastes e exageros.

Enquanto o Arcadismo tinha como referência o ser humano como centro do mundo, a partir das ideias antropocêntricas disseminadas pelos humanistas, o Barroco agiu como uma ferramenta de contrarreforma para reavivar a fé cristã.

Uso de pseudônimos pastoris

Os autores árcades adotavam nomes falsos para assinar as suas obras. Porém, esses pseudônimos deviam remeter a nomes tradicionalmente associados aos homens do campo.

Esse pseudônimo pastoril (ou nome arcádico, como também era conhecido) tinha de ser simples, pois a simplicidade era uma das palavras-chave para os árcades ao imaginar a essência da vida no campo.

Dirceu, por exemplo, era o pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga, um dos principais nomes do arcadismo brasileiro.

Principais autores

No Brasil, os principais autores do Arcadismo são:

  • Cláudio Manuel da Costa (1729 – 1789)
  • Tomás António Gonzaga (1744 – 1810).
  • Basílio da Gama (1741 – 1795)
  • Frei Santa Rita Durão (1722 – 1784).

Em Portugal, os autores árcades mais importantes são:

  • Bocage (1765 – 1805)
  • Correia Garção (1724 - 1772)
  • Cruz e Silva (1731 – 1799)
  • Marquesa de Alorna (1750 – 1839)
  • Filinto Elísio (1734 – 1819)

Bibliografia:

  • BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, 50ª ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
  • SARAIVA, A. J.; LOPES, O. História da Literatura Portuguesa, 17ª ed. Porto: Porto, 2005.
  • KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. São Paulo: Cajuína, 2020.

Descubra mais sobre o Arcadismo.

Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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