Dadaísmo

Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Dadaísmo foi um movimento artístico e literário que integrava as vanguardas europeias e pretendia romper com os estilos tradicionais e clássicos.

Também conhecido como Movimento Dadá, surgiu em 1916, criado por um grupo de artistas refugiados da Primeira Guerra Mundial, em Zurique, na Suíça. Seus integrantes se posicionavam contra a guerra e a sociedade burguesa, atacando qualquer sentimento que remetesse ao nacionalismo ou ao materialismo.

Refletindo o espírito desta vanguarda, o nome “dadaísmo” não possui nenhum significado específico. Os fundadores do movimento escolheram um nome aleatório no dicionário, representando um ato não racional e casual.

O termo dada significa, em francês, “cavalinho de pau” ou “brinquedo de criança”, e também remete à linguagem típica dos bebês, reforçando o caráter nonsense das obras dadaístas.

As obras do movimento consistiam na desconstrução da arte tradicional, propondo conceitos como a desordem, o caos e o acaso. Com isso, estes artistas pretendiam criar uma arte de protesto que chocasse a sociedade contemporânea.

Confira, abaixo, o mapa mental do dadaísmo:
mapa mental sobre o dadaísmo.

O que vai encontrar:

Características do Dadaísmo

Entre as principais características do dadaísmo podemos apontar:

  • Combate das formas tradicionais e institucionalizadas da arte;
  • Destruição dos valores e modelos artísticos que existiam até então;
  • Ênfase nos absurdos e temas sem lógica (nonsenses);
  • Crítica ao consumo e ao capitalismo;
  • Utilização da sátira e do humor;
  • Aversão à guerra e suas motivações capitalistas;
  • Valorização da irreverência artística e da provocação;
  • Incentivo ao improviso e ao acaso como partes do processo criativo;
  • Utilização de diversas formas de expressão cotidianas (como fotografias, sons, poesias, músicas, jornais, objetos) para a produção das obras plásticas;
  • Caráter pessimista e irônico em relação aos assuntos políticos;
  • Rejeição do conceito de "belo"; os dadaístas procuravam aquilo que era original e surgia através da total liberdade de criação;
  • Movimento de revolta que se estabeleceu como um modo de contra cultura, afirmando-se, até, como "anti-arte".

Obras do Dadaísmo

Para os dadaístas, a arte era sinônimo de experimentalismo. Tudo era permitido e a criação artística implicava testar, constantemente, novas técnicas e processos. Um dos conceitos-chave do movimento era o automatismo: um processo caótico, sem previsão de qual seria o resultado, no qual o artista apenas se deixava levar e reproduzia aquilo que surgia na sua mente.

Outra de suas técnicas criativas era a "exploração do azar", deixando parte do processo nas mãos do acaso (por exemplo, lançando papéis aleatoriamente numa tela e depois fazendo colagens com eles). Isto vinha questionar o papel do artista enquanto criador, ao mesmo tempo que ecoava o caos e o absurdo da vida moderna.

As obras do dadaísmo assumiram várias formas, como radiogramas, instalações, fotomontagens, colagens, poemas e filmes, entre outras.

Fonte (1917)

Marcel Duchamp, Fonte, 1917.
Marcel Duchamp, Fonte (1917).

A obra de Marcel Duchamp é, sem dúvida, a mais popular do movimento. Trata-se de um ready-made, um conceito fundamental para compreender o dadaísmo. Neste tipo de técnica, objetos da vida cotidiana eram apresentados como criações artísticas. No fundo, a ideia era que a arte já existia no mundo físico e o papel do artista seria encontrá-la.

O urinol, batizado de "fonte", causou controvérsia, questionando o conceito de arte e materializando o espírito rebelde de Dadá. Na década de 70, chegou a ser vandalizado no Centro Georges Pompidou, em Paris.

L.H.O.O.Q. (1919)

Marcel Duchamp, 1919, L.H.O.O.Q.
Marcel Duchamp, L.H.O.O.Q. (1919).

Outra obra incontornável de Duchamp, L.H.O.O.Q. apresenta uma das pinturas mais famosas de todos os tempos, a Monalisa, com um bigode desenhado. Ao transformar, através do humor, um símbolo artístico tão importante, manifestava a dessacralização da arte e a tentativa de "destruir" todos os modelos anteriores.

Principais artistas do Dadaísmo

  • Marcel Duchamp (1887 – 1968): pintor e escultor francês;
  • Tristan Tzara (1896 – 1963): poeta e escritor romeno-francês;
  • Hans Arp (1886 – 1966); pintor, escultor e poeta alemão;
  • Julius Evola (1898 – 1974): escritor e intelectual italiano;
  • Kurt Schwitters (1887 – 1948): pintor, escultor e escritor alemão;
  • Max Ernst (1891 – 1976): pintor e poeta alemão e norte-americano;
  • Man Ray (1890 – 1976): fotógrafo, artista plástico e diretor de cinema.

Contexto histórico do Dadaísmo

Um movimento artístico revolucionário, o dadaísmo surgiu no início do século XX, em torno de um local chamado Cabaret Voltaire, em Zurique, que pertencia ao poeta Hugo Ball e à esposa, Emmy Hennings. Tratava-se de um ponto de encontro que reunia artistas de várias disciplinas, incluindo Tristan Tzara, que mais tarde acabou se tornando o "líder" do movimento.

Por lá, os criadores discutiam temas relacionados com a arte e a sociedade, produzindo também espetáculos, performances e publicações. Para compreendermos o movimento, precisamos refletir sobre o contexto sociopolítico no qual ele despontou. Dadá surge como reflexo do caos, da revolta e das incertezas que a Primeira Guerra Mundial provocou.

Zurique era uma cidade neutra, aonde grande parte destes intelectuais estavam exilados, na sequência do conflito, e criavam como forma de protesto. Refletindo o próprio descontentamento com os valores sociais, políticos e artísticos que vigoravam, os dadaístas pretendiam "destruir" para abrir caminhos para aquilo que era novo.

Em pouco tempo, o movimento se espalhou por outras metrópoles artísticas da época, como Barcelona, Berlim, Paris e Nova York, entre outras. Não existe uma data que assinala o seu final, mas é geralmente apontado o ano de 1924.

Posteriormente, alguns dos seus discípulos deram início ao Surrealismo e várias características desta vanguarda ainda permanecem na arte contemporânea.

Dadaísmo na literatura

O dadaísmo ganhou grande destaque na literatura. Os textos eram compostos a partir da desorganização das palavras, da agressividade verbal, da banalização das rimas, incoerência, e a falta de lógica e raciocínio tradicional.

Os poemas dadaístas, por exemplo, eram escritos sem uma reflexão prévia do seu conteúdo, utilizando apenas uma disposição de palavras aleatórias, que eram escritas conforme o autor as pensava.

Servindo-se de automatismos, jogos de palavras e associação livre de ideias, os poetas dadaístas chegavam a inventar seus próprios termos. É o que acontece em algumas composições fonéticas de Hugo Ball, como "Karawane", nas quais o que importa é sonoridade e não o sentido.

Karawane

jolifanto bambla ô falli bambla
grossiga m’pfa habla horem
égiga goramen
higo bloiko russula huju
hollaka hollala
anlogo bung
blago bung
blago bung
bosso fataka
ü üü ü
schampa wulla wussa ólobo
hej tatta gôrem
eschige zunbada
wulubu ssubudu uluw ssubudu
tumba ba- umf
kusagauma
ba – umf

Tristan Tzara, o principal representante da literatura dadaísta, traduz esta forma inusitada de criar no poema que apresentamos abaixo:

Receita de um poema dadaísta

Pegue um jornal.
Pegue uma tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

Dadaísmo no Brasil

O dadaísmo influenciou o trabalho de alguns autores brasileiros, principalmente na literatura. Embora não tenha se constituído enquanto movimento no nosso país, seus valores e atitudes também ecoaram por aqui.

O principal representante deste estilo no Brasil foi o escritor Manuel Bandeira, consagrado o maior poeta lírico do modernismo nacional.

Mário de Andrade também é outra importante referência do dadaísmo no Brasil, sendo que suas obras continham uma grande carga crítica e eram construídas a partir do princípio do “nonsense”.

Nas artes visuais, se destaca o nome de Flávio de Carvalho, um artista multifacetado que incorporou diversas influências dadaístas e futuristas no seu trabalho.

Resumo sobre o Dadaísmo

Aspecto Descrição
Origem do Dadaísmo Movimento artístico e literário que surgiu em 1916 em Zurique, Suíça, criado por artistas refugiados da Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de romper com as tradições e protestar contra a guerra.
Características Destruição das formas tradicionais de arte, uso de absurdos, crítica ao capitalismo, sátira, humor, aversão à guerra, valorização da irreverência e do acaso no processo criativo, e rejeição do conceito de "belo".
Principais Técnicas Automatismo, exploração do acaso, uso de ready-mades (objetos cotidianos apresentados como arte), fotomontagens, colagens, e técnicas que questionam o papel do artista.
Principais Obras "Fonte" (1917) e "L.H.O.O.Q." (1919) de Marcel Duchamp, obras que simbolizam o espírito rebelde e provocativo do movimento.
Contexto Histórico Surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, como um movimento de revolta contra os valores sociais e políticos da época, inicialmente em Zurique e depois se espalhou para outras cidades como Paris e Nova York.
Literatura Dadaísta Caracterizada pela desorganização de palavras, incoerência, uso de automatismos e associações livres de ideias, como exemplificado pelos poemas de Hugo Ball e Tristan Tzara.
Dadaísmo no Brasil Influenciou autores como Manuel Bandeira e Mário de Andrade na literatura, e artistas como Flávio de Carvalho nas artes visuais.

Referências bibliográficas:

  • RICHARD, Hans. Dada: Art and Anti-Art. Londres: Thames & Hudson, 1965.
  • TRINGALI, Dante. Dadaísmo e surrealismo. ITINERÁRIOS – Revista de Literatura, 1990.

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Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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