Estoicismo: o que é, significado e o que é ser estóico

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

Estoicismo é uma escola e doutrina filosófica surgida na Grécia Antiga, que preza a fidelidade ao conhecimento e o foco em tudo aquilo que pode ser controlado pela própria pessoa. Despreza todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão e os desejos extremos.

A escola estoica foi criada por Zenão de Cítio, na cidade de Atenas, cerca de 300 a.C.. Porém, a doutrina ficou efetivamente conhecida ao chegar em Roma. O seu tema central defendia que todo o universo seria governado por uma lei natural divina e racional.

Sendo assim, para o ser humano alcançar a verdadeira felicidade, deveria depender apenas da sua “virtude”, ou seja, os seus conhecimentos e valores, abdicando totalmente do “vício”, considerado pelos estoicos um mal absoluto.

O estoicismo também ensina a manter uma mente calma e racional, independente do que aconteça. Ensina que isso ajuda o ser humano a reconhecer e se concentrar naquilo que pode controlar e a não se preocupar e aceitar o que não pode controlar.

Os princípios da filosofia estoica, que norteiam os seguidores da doutrina, são:

  • A virtude é o único bem e caminho para a felicidade;
  • A pessoa deve sempre priorizar o conhecimento e o agir com a razão;
  • O prazer é um inimigo do sábio;
  • O universo é governado por uma razão universal natural e divina;
  • As atitudes têm mais valor que as palavras, ou seja, o que é feito tem mais importância do que é dito;
  • Os sentimentos externos tornam o ser humano um ser irracional e não imparcial;
  • Não se deve perguntar porque algo aconteceu na sua vida, e sim aceitar sem reclamar, focando apenas no que pode ser modificado e controlado naquela situação;
  • Agir prudentemente e assumir a responsabilidade sobre os seus atos;
  • Tudo ao nosso redor acontece de acordo com uma lei de causa e efeito;
  • A vida e as circunstâncias não são idealizadas. O indivíduo precisa conviver e aceitar a sua vida da forma que ela é.

A partir desses princípios é possível entender que uma pessoa estoica é aquela que não se deixa levar por crenças, paixões e sentimentos capazes de tirar a racionalidade de uma pessoa na hora de agir, como desejos, dor, medo e prazer. Isso por essas circunstâncias serem infundadas e irracionais.

A pessoa estoica busca agir racionalmente, mesmo com a existência desses sentimentos. Não que o estoico seja um indivíduo sem sentimentos, mas ele não é prisioneiro deles.

Os ensinamentos da filosofia estoica

A filosofia estoica tem o foco na vida prática, nas ações e acontecimentos do cotidiano e em como o ser humano lida com esses acontecimentos racionalmente.

Segundo o pensamento estoico, há coisas que não estão sob o controle das pessoas e há coisas que são possíveis de serem controladas. Neste caso, sobre o que não é possível controlar, como o clima, por exemplo, não há nada que possa ser feito para alterar o seu estado.

A ataraxia, a autossuficiência, a negação de sentimentos externos e o enfrentamento dos problemas através da razão são ensinamentos da filosofia cujo objetivo é mostrar que o indivíduo deve se concentrar apenas no que é possível controlar. Deve ser grato ao que já possui e negar os prazeres e emoções extremas.

Segundo a filosofia estoica, os acontecimentos que estão fora do seu controle não podem proporcionar a felicidade. A felicidade depende unicamente dos acontecimentos dos quais se pode controlar.

Os principais ensinamentos da filosofia estoica são:

Ataraxia

O foco da filosofia estoica é a conquista da felicidade por meio da ataraxia, um ideal de tranquilidade em que é possível viver serenamente e com paz de espírito.

Para os estoicos, o indivíduo apenas poderia conseguir essa felicidade através das suas próprias virtudes, ou seja, dos seus conhecimentos.

Autossuficiência

A autossuficiência é um dos principais objetivos dos estoicos. Isso porque o estoicismo prega que cada ser deve viver conforme a sua natureza, ou seja, deve agir de forma responsável com o que acontece na sua própria vida.

Assim sendo, como ser racional que é, o ser humano deve se valer das suas próprias virtudes em prol da conquista do seu maior propósito: a felicidade.

Negação de sentimentos externos

Os estoicos consideram que os sentimentos externos (paixão, luxúria, etc.) são nocivos ao ser humano, pois fazem com que ele deixe de ser imparcial e se torne irracional.

Todos esses sentimentos são tidos como vícios e como causadores de males absolutos que comprometem as tomadas de decisões e a organização dos pensamentos de forma lógica e inteligente.

Enfrentar os problemas através da razão

Na busca pela vida tranquila e feliz, a filosofia estoica defende que todos os fatores externos que comprometem a perfeição moral e intelectual devem ser ignorados.

Mesmo na adversidade, em situações problemáticas ou difíceis, as pessoas devem optar por reagir sempre com calma, tranquilidade e racionalidade, sem deixar que os fatores externos comprometam a sua capacidade de julgamento e ação.

Diferenças entre o Estoicismo e Epicurismo

O epicurismo também foi uma escola filosófica da Grécia Antiga, fundada entre 341 a 270 antes de Cristo, por Epicuro. Esta doutrina filosófica acreditava que o indivíduo só alcança a paz e a tranquilidade se encontrasse a ausência da dor.

Enquanto o estoicismo ensina que deve utilizar a razão, negar os prazeres terrenos e aceitar as dores e problemas, lidando apenas com o que pode ser controlado, o epicurismo prega que os indivíduos devem procurar prazeres moderados para alcançar um estado de tranquilidade e de libertação da dor.

No entanto, os prazeres não podem ser exagerados, pois, podem apresentar perturbações que dificultam o encontro da serenidade, felicidade e saúde corporal.

Enquanto isso, o estoicismo, contrariando o epicurismo, prega que a busca da felicidade está na eliminação dos prazeres e nas ações racionais diante de qualquer circunstância.

O epicurismo, por seu turno, é materialista. Não compreende que o universo possua uma ordem racional natural, não há uma razão universal que governa todo o universo, do qual a alma humana faça parte.

Enquanto isso, o estoicismo acredita que o universo é governado por uma ordem natural e divina.

Principais filósofos estoicos

Zenão de Cítio

Zenão foi o filósofo fundador do estoicismo. Nascido na ilha de Chipre, foi o criador da escola estoica.

Zenão de Cítio
Escultura representando Zenão de Cítio

"O sentido da vida consiste estar de acordo com a natureza."

Marco Aurélio

Marco Aurélio era um imperador romano poderoso, que seguiu o estoicismo durante os seus 19 anos de reinado. Ficou conhecido por sua paz e tranquilidade, mesmo em meio aos problemas enfrentados pelo seu reino, encarando as circunstâncias racionalmente.

Ele compilou os seus pensamentos e conclusões sobre a vida no livro intitulado "Meditações".

Uma frase de Marco Aurélio que resume bem o pensamento estoico é:

“A felicidade da sua vida depende da qualidade dos seus pensamentos.”

Epiteto

A segunda maior referência do estoicismo é Epiteto, que nasceu como escravo e, ao longo da vida, fundou a sua própria escola estoica, ensinando algumas pessoas muito influentes de Roma, dentre os quais o próprio imperador Marco Aurélio.

Seus ensinamentos estão compilados no livro "Manual de Epiteto". Uma das frases do filósofo que explica a doutrina estoica é:

“Desterra de ti desejos e receios, e nada terás que te tiranize.”

Sêneca

Tutor e conselheiro do famoso imperador romano Nero, Sêneca também foi um grande político e escritor. Como filósofo, foi um dos principais representantes do estoicismo no Império Romano.

Os seus pensamentos e ensinamentos foram compilados em alguns livros, sendo o principal "Cartas de um Estoico". Uma de suas frases mais célebres é:

“Às vezes, até mesmo viver é um ato de coragem.”

Fases do estoicismo

O estoicismo é dividido em três principais períodos: ético (antigo), eclético (médio) e religioso (recente).

Fase 1

O chamado estoicismo antigo ou ético foi vivido pelo fundador da doutrina, Zenão de Cício (333 a 262 a.C.), e foi concluído por Crisipo de Solunte (280 a 206 a.C.), que teria desenvolvido a doutrina estoica e a transformado no modelo conhecido na atualidade.

Fase 2

Já no estoicismo médio ou eclético, o movimento começa a se disseminar entre os romanos, sendo Panécio de Rodes (185 a 110 a.C.) o principal motivador da introdução do estoicismo na sociedade romana.

A característica mais marcante deste período, no entanto, foi o ecletismo que a doutrina sofreu a partir da absorção de pensamentos de Platão e Aristóteles. Posidônio de Apaméia (135 a.C. a 50 d.C.) foi o responsável por esta mistura.

Fase 3

Por fim, a terceira fase do estoicismo é conhecida como religiosa ou recente. Os membros deste período enxergavam a doutrina filosófica não como parte de uma ciência, mas como uma prática religiosa e sacerdotal. O imperador romano Marco Aurélio foi um dos principais representantes do estoicismo religioso.

Bibliografia:

  • STOCK, George. Estoicismo: Guia Definitivo. São Paulo: Montecristo, 2020.
  • GRIMAL, Pierre. Marco Aurélio, o Imperador Filósofo. Rio de Janeiro: Zahar. 2018.

Veja também:

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
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