Funções de Linguagem
Funções de linguagem são as formas como cada indivíduo organiza sua fala dependendo da mensagem que deseja transmitir.
A transmissão da mensagem pressupõe alguns componentes, chamados de elementos da comunicação: um emissor, um receptor, um contexto, um código e um canal entre o emissor e o receptor.
O emissor sempre tem um propósito ao enviar uma mensagem. Esse objetivo pode ser informar algo, expressar sentimentos ou persuadir alguém a realizar uma ação. Como resultado, a linguagem adquire uma função, que pode ser:
- Referencial (ou denotativa)
- Emotiva (ou expressiva)
- Conativa (ou apelativa)
- Metalinguística
- Fática
- Poética
Segundo o linguista russo Roman Jakobson, raramente encontramos mensagens verbais com uma única função. Mesmo que uma predomine, as funções se misturam, criando diversos efeitos.
1. Função referencial (ou denotativa)
Quando o objetivo do emissor é informar de forma clara e objetiva, a linguagem assume a função referencial ou denotativa. Essa função visa transmitir informações, assuntos, ideias e argumentos.
Textos em jornais, revistas informativas, livros técnicos e didáticos geralmente apresentam essa predominância.
Exemplos de função referencial:
Picolé flexível
A empresa inglesa Iceland está lançando um sorvete que não derrete. Quando ele começa a se desmanchar, transforma-se em uma espécie de goma de mascar e vira um sorvete flexível. Mas não desmancha. “Criamos um produto para os consumidores que reclamavam da sujeira que os filhos fazem quando chupam sorvete”, diz Calum Kirk, um dos diretores da empresa. A fórmula do novo produto está sendo guardada a sete chaves. (Revista ISTOÉ)
Muitos organismos vivos emitem luz, um fenômeno chamado bioluminescência. O mais conhecido popularmente talvez seja o vagalume, mas existem também bactérias, moscas, minhocas e outros animais, terrestres e marinhos, bioluminescentes. [...] Em um estudo anterior envolvendo cogumelos de acrílico emitindo luz, os pesquisadores notaram que os cogumelos brilhantes atraíam insetos. Os animais serviriam, portanto, para disseminar os esporos do fungo. "Os cogumelos têm uma função reprodutiva, do mesmo modo como flores coloridas atraem insetos. Existe também um cogumelo cujo odor fétido atrai moscas", afirma o químico Stevani. (Folha de São Paulo)
2. Função emotiva (ou expressiva)
Existe predominância da função emotiva ou expressiva quando o texto reflete o emissor focado em si, nos próprios sentimentos, revelando seu estado emocional.
É comum observar o uso frequente de verbos e pronomes em primeira pessoa, além de pontos de exclamação, enfatizando os aspectos emocionais do emissor.
Exemplos de função emotiva:
Estou tendo agora uma vertigem. Tenho um pouco de medo. A que me levará minha liberdade? O que é isto que estou te escrevendo? Isto me deixa solitária. (Clarice Lispector)
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Moraes – Soneto de Fidelidade)
3. Função conativa (ou apelativa)
Existe predominância da função conativa ou apelativa quando há, por parte do emissor, o desejo de persuadir o receptor, levando-o a uma mudança de comportamento.
Essa atuação sobre o receptor pode acontecer por meio de uma ordem, um apelo, uma sugestão, uma súplica.
Exemplos de função conativa:
Horóscopo do dia:
Capricórnio: cuide do seu corpo e bem-estar, capricorniano. Aproveite também o magnetismo em alta para fazer novos contatos.
Como guardar dinheiro? 3 passos que podem mudar sua vida!
– Trace objetivos.
– Saiba onde guardar dinheiro.
– Dê valor ao dinheiro
4. Função metalinguística
A linguagem apresenta função metalinguística quando se refere ao próprio código. É, na verdade, a própria linguagem que está em jogo. O emissor utiliza-se dela para transmitir ao receptor suas reflexões a seu respeito. Assim, o próprio código linguístico é discutido e posto em destaque.
A função metalinguística predomina especialmente em textos que têm como propósito explicar ou esclarecer aspectos da própria linguagem. Dicionários, glossários, manuais de gramática, ensaios linguísticos e mesmo propagandas são exemplos comuns de textos nos quais a função se destaca.
Exemplos de função metalinguística:
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. (Machado de Assis – Dom Casmurro)
dicionário
di·ci·o·ná·ri·o
substantivo masculino
1 LING: Coleção, parcial ou completa, das unidades lexicais de uma língua (palavras, locuções, afixos etc.), em geral dispostos em ordem alfabética, com ou sem significação equivalente, assim como sinônimos, antônimos, classe gramatical, etimologia etc., na mesma ou em outra língua.
5. Função fática
A função fática está relacionada à manutenção do contato e à verificação do canal de comunicação. Exemplos comuns de textos nos quais a função fática se destaca incluem saudações, cumprimentos, despedidas, pequenas conversas cotidianas e mensagens.
Exemplos de função fática:
– Como vai, Maria?
– Vou bem. E você?
– Você vai bem, Maria?
– Já disse que sim!
– Eu também. Está tão bonita!
– Ah, bem, é que eu...
– Ah, é.
(Dalton Trevisan)
– Salve!
– Como é que vai?
– Amigo, há quanto tempo!
– Um ano ou mais
– Posso sentar um pouco?
– Faça o favor
– A vida é um dilema
– Nem sempre vale a pena
– Pô...
– O que é que há?
– Rosa acabou comigo
– Meu Deus, por quê?
– Nem Deus sabe o motivo [...]
(Aldir Blanc & Silvio da Silva Jr. – Amigo é pra essas coisas)
6. Função poética
Na função poética da linguagem, a mensagem é posta em destaque. É proeminente em textos que buscam expressar a criatividade, a estética e a originalidade da linguagem.
Essa função concentra-se na forma como as palavras são organizadas para criar efeitos artísticos, explorando a sonoridade, ritmo, imagens poéticas e figuras de linguagem.
A poesia é um exemplo clássico da função poética, mas outros textos literários, canções e expressões artísticas que priorizam a beleza e a expressividade da linguagem também incorporam essa função.
Exemplos de função poética:
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto
Se me olho a um espelho, erro —
Não me acho no que projeto”
(Mário de Sá-Carneiro)
Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi.
Sou filho das selvas
Nas selvas cresci.
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
(Gonçalves Dias)
Bibliografia:
- FERREIRA, Mariana e PELLEGRINI, Tânia. Redação: Palavra e Arte. São Paulo, Atual, 1999.
- JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo, Cultrix, 1973.
Veja também: