História em Quadrinhos (HQ)

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

História em quadrinhos, também conhecidas como HQ, é uma forma de arte sequencial que combina imagens e texto para contar uma história. É geralmente composta por uma série de quadros (ou painéis) organizados em uma sequência narrativa. Também é chamada de nona arte, a antepenúltima do grupo dos 11 tipos de arte.

É considerada, segundo estudos linguísticos, um gênero textual predominantemente narrativo e misto, por contar histórias e abarcar textos verbais e, principalmente, não verbais.

Página de história em quadrinhos sendo desenhada
Página de história em quadrinhos sendo desenhada

Características da História em Quadrinhos

Linguagem híbrida

As HQs combinam linguagem verbal (textos) e linguagem não verbal (imagens) para contar histórias de maneira simultânea.

  • Textos: balões de fala, legendas, narração em boxes e onomatopeias são alguns dos elementos textuais utilizados nas HQs. Eles fornecem informações sobre diálogos, pensamentos, ações e sons da história.
  • Imagens: os desenhos, cores, enquadramentos, perspectiva e outros aspectos visuais das HQs são essenciais para a narrativa. Eles podem transmitir emoções, criar atmosferas e definir o ritmo da história.
Página da HQ Little Nemo
Little Nemo (1905), de Winsor McCay.

Narrativa visual

As imagens nas HQs não servem apenas para ilustrar o texto. Desempenham um papel fundamental na narrativa, contando a história de maneira visual e dinâmica.

  • Sequência de quadros: as imagens são organizadas em quadros que guiam a leitura da história. A ordem dos quadros, o tamanho e a disposição espacial podem influenciar o ritmo da narrativa e a compreensão do leitor.
  • Composição dos quadros: a escolha de elementos visuais dentro de cada quadro, como ângulos de câmera, planos, enquadramentos e perspectiva, contribui para a construção da narrativa e do significado da história.

Variedade de estilos

As HQs apresentam uma grande variedade de estilos visuais, desde cartuns humorísticos até o realismo dramático. Essa diversidade permite que os artistas explorem diferentes temas e formas expressivas.

  • Estilos de desenho: os estilos de desenho podem variar desde o cartum exagerado até o realismo fotográfico. Cada estilo transmite uma estética e um tom específicos para a história.
  • Gêneros: as HQs abrangem diversos gêneros, como super-heróis, aventura, ficção científica, humor, romance, horror, biografia e muitos outros. Essa variedade garante que existam HQs para todos os gostos e interesses.

Origens das Histórias em Quadrinhos

As origens das HQs se estendem por diferentes culturas e períodos históricos, revelando uma rica trajetória que influenciou como consumimos narrativas visuais.

Primórdios da narrativa visual

  • Arte rupestre: as pinturas nas cavernas pré-históricas, como as de Lascaux na França, datadas de 15.000 a.C., podem ser consideradas precursoras das HQs, ao narrarem eventos e histórias por imagens sequenciais.
  • Hieróglifos egípcios: os hieróglifos, utilizados pelos antigos egípcios a partir de 3.200 a.C., combinam símbolos e imagens para transmitir informações e contar histórias.
  • Tapetes medievais: tapeçarias como a de Bayeux, do século XI, narram eventos históricos com imagens e textos bordados.
  • Xilogravuras japonesas: Ukiyo-e, como as obras de Hokusai e Hiroshige no século XIX, popularizou histórias populares japonesas em séries de imagens com textos, influenciando artistas ocidentais.

Pioneiros da narrativa sequencial

Página da HQ Mosieur Jabot
História de monsieur Jabot (1833), de Töpffer.
  • Rodolphe Töpffer (1799-1846): O cartunista suíço é considerado por muitos o "pai das histórias em quadrinhos" por suas obras como "Monsieur Jabot" (1833) e "Histoire de M. Vieux Bois" (1837), que utilizavam sequências de imagens para contar histórias humorísticas.
  • Wilhelm Busch (1832-1908): O ilustrador alemão é conhecido por suas histórias em quadrinhos satíricas e humorísticas, como "Max und Moritz" (1865), que influenciou o desenvolvimento das tiras cômicas nos Estados Unidos.
  • Angelo Agostini (1843-1910): é importante mencionar o trabalho original publicado na imprensa brasileira, desenvolvido pelo artista italiano Angelo Agostini. Este artista produziu diversas charges e caricaturas de personalidades políticas durante a época imperial de Dom Pedro II.

The Yellow Kid

Página da HQ The Yellhow Kid
The Yellow Kid and a friend set up a cockfight (1896), de Richard Outcault.

No entanto, a data geralmente aceita como o marco inicial das HQs modernas é 1895, com a publicação de "The Yellow Kid" ("O Garoto Amarelo") de Richard Outcault. Essa tira humorística inovadora utilizava balões de fala e cores vibrantes, capturando a atenção do público e influenciando artistas subsequentes.

Tipos de Histórias em Quadrinhos

Ao longo dos anos, as histórias em quadrinhos evoluíram das tiras cômicas para abranger uma ampla variedade de gêneros, incluindo:

  • Super-heróis
  • Ficção científica
  • Terror
  • Policial
  • Humorística
  • Histórica
  • Jornalística
  • Esportiva
  • Erótica
  • Romântica
  • Guerra

Na década de 1970 surgiram, nos Estados Unidos, as Graphic Novels, ou romances gráficos. Popularizada pelo quadrinista Will Eisner a partir da sua obra Um Contrato com Deus (1978), essas publicações são HQs destinadas a um público mais maduro, que busca uma experiência de leitura mais profunda.

Publicadas em formato similar a livros, geralmente com capa dura e lombada quadrada, são normalmente mais extensas do que as tradicionais histórias em quadrinhos. Apresentam trama complexa, com desenvolvimento de personagens e temas mais densos.

A qualidade e profundidade dos romances gráficos ajudou a legitimar o caráter artístico das histórias em quadrinhos.

Histórias em Quadrinhos no Brasil

A presença das HQs no país remonta ao século XIX, alcançando a popularização nas tiras de jornais e com a publicação de revistas voltadas para essa arte.

Ângelo Agostini

Página da HQ Nhô-Quim
As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte (1869), de Ângelo Agostini.

"As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte" (1869), de Ângelo Agostini, representa um marco histórico nos quadrinhos, tanto no Brasil quanto no mundo.

A HQ conta a história de Nhô Quim, um jovem caipira ingênuo e bem-humorado, é enviado por seu pai para a Corte (Rio de Janeiro) a fim de esquecer um amor proibido. Em sua jornada, ele se depara com as novidades e os desafios da vida urbana, vivenciando situações cômicas e constrangedoras.

Revista Tico-Tico

Fundada em 1905 por Luís Bartolomeu de Souza e Silva, a revista Tico-Tico foi a primeira revista de quadrinhos brasileira. Seguindo o modelo da revista francesa La Semaine de Suzette, circulava semanalmente, publicando histórias de autores nacionais e internacionais.

Primeiras editoras

Entre as décadas de 1930 e 1960, as HQs popularizaram-se no Brasil nos suplementos de jornais. Neste período, surgiram as primeiras editoras voltadas à nona arte, como a Casa Editorial Vecchi, o Globo, o Cruzeiro, Editora Bloch e EBAL. Suas revistas publicavam, majoritariamente, HQs de editoras norte-americanas, como Disney, King Features Syndicate e DC Comics.

A Turma da Mônica

Criada por Maurício de Sousa em 1959, a Turma da Mônica conquistou o coração de várias gerações de brasileiros. A partir da personagem Mônica, inspirada em sua filha, Mauricio expandiu um universo de personagens icônicos, retratando o dia a dia da infância com humor e leveza.

A Turma da Mônica é hoje é publicada em diversos países e idiomas, conquistando reconhecimento internacional, consolidando-se como um dos maiores sucessos entre as histórias em quadrinhos brasileiras.

Ziraldo

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 24 de outubro de 1932. Começou sua carreira como cartunista em 1954, no jornal "Folha de Minas", e logo se tornou um dos nomes mais importantes dos quadrinhos brasileiros. Criou personagens icônicas, como a Turma do Pererê e o Menino Maluquinho.

Histórias em Quadrinhos pelo Mundo

Diversos países têm suas próprias tradições e estilos de histórias em quadrinhos, que recebe nomes diferentes em diversos lugares, como podemos perceber no quadro a seguir:

EUA Comics Do inglês "comic", que significa "cômico", pois originalmente as histórias em quadrinhos eram humorísticas.
França Bandes dessinées (BD) Significa "tiras desenhadas", destacando a importância da imagem na narrativa.
Portugal Banda desenhada (BD) Influência francesa.
Espanha Tebeos Do nome da revista "TBO", que popularizou as HQs no país.
Itália Fumetti Do italiano "fumo", que significa "fumaça", em referência aos balões de diálogo.
Japão Mangá Do japonês "man", que significa "involuntário", e "ga", que significa "desenho".
Brasil Histórias em quadrinhos (HQs), Gibis, Revistinhas Diversos termos coexistem. "Gibi" foi uma revista popular de quadrinhos dos anos de 1950. "Revistinha" deriva do formato pequeno ("formatinho") de muitas revistas de HQ publicadas no país.

Bibliografia:

  • BIBE-LUYTEN, Sonia O. O que é História em Quadrinhos. Brasiliense, São Paulo, 1985.
  • IANONNE, Leila R.; IANONNE, Roberto A. O mundo das Histórias em Quadrinhos. Moderna, São Paulo, 1994.

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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