Iansã: quem é a deusa dos ventos das religiões afro-brasileiras
Iansã é uma divindade das religiões afro-brasileiras e da mitologia iorubá associada aos ventos e às águas. Também conhecida como Oiá ou Oyá, é uma das principais orixás femininas.
É amplamente adorada e celebrada em diversas tradições religiosas do Brasil, África Ocidental e da América Central. Sua importância transcende as fronteiras da religião, estendendo-se à cultura e à identidade afro-brasileira.
História, significado e sincretismo
Originária do povo que ocupava o território sub saariano hoje correspondente à Nigéria, Togo e Serra Leoa, a deusa faz parte do panteão iorubá, uma rica tradição religiosa que engloba diversas divindades associadas a aspectos da natureza e da vida humana.
Segundo essa mitologia, Iansã é filha de Iemanjá e Oxalá, e possui como irmãos Oxum, Obá e Oxóssi.
Deusa obstinada e corajosa, possui dois maridos: Ogum, o caçador, e Xangô, o senhor do fogo. Com seus dois esposos aproximou-se das batalhas, tornando-se uma iabá (orixá feminino) associada à guerra.
Seu nome, Oyá, surgiu de um rio na Nigéria onde se originou seu culto, atualmente chamado de rio Níger. A nomenclatura Iansã, por sua vez, significa "mãe do céu rosado" ou "mãe do entardecer". Xangô, chamava-a deste modo, pois a considerava radiante como o entardecer.
Ao longo dos séculos, a religião iorubá foi trazida ao Brasil pelos africanos escravizados, que mantiveram suas crenças e práticas religiosas mesmo sob o jugo da opressão.
No contexto da diáspora africana, ocorreu um processo de sincretismo religioso, no qual as divindades iorubás foram associadas a santos católicos, buscando preservar suas tradições disfarçadamente.
Nesse contexto, Iansã foi assimilada à figura de Santa Bárbara, resultando em uma fusão de símbolos e rituais.
Características de Iansã
Oiá é uma iabá relacionada, sobretudo, ao elemento ar. Possui o poder de controlar e direcionar os ventos, trazendo mudanças e transformações. Suas tempestades representam sua capacidade de purificar e renovar.
A deusa também está associada aos raios e trovões. Os raios são vistos como sua arma, símbolo de seu poder destrutivo, mas também de sua justiça implacável. Os trovões anunciam sua presença e intensificam sua energia.
Iansã é considerada uma protetora, tanto na vida cotidiana quanto nos campos espiritual e emocional. Segundo a tradição, defende seus seguidores contra influências negativas, trazendo segurança e equilíbrio. Sua energia protetora costuma ser invocada para afastar perigos e oferecer abrigo.
Também está ligada ao culto dos mortos. Segundo a mitologia, a deusa recebeu de Obaluaiê a responsabilidade de guiar as almas dos falecidos (eguns) a um dos nove céus, de acordo com suas ações em vida. Para proteger-se desses espíritos, recebeu de Oxóssi um eruexin (espécie de espanador feito com o pelo da cauda de animais).
Iansã no Candomblé e na Umbanda
A deusa do rio Niger é adorada, no Brasil, pelas religiões de matriz africana, em especial no Candomblé e na Umbanda. Embora haja algumas diferenças em seus cultos, ambas as tradições reconhecem Iansã como uma orixá de grande importância e poder.
Tanto no Candomblé quanto na Umbanda, o culto a Iansã é marcado pela reverência, pelo respeito e pela busca por sua energia transformadora. Ela é vista como uma divindade guerreira que traz coragem, proteção e direção em momentos de desafios.
Dia de Iansã
Iansã é celebrada em 4 de dezembro, sendo essa a data também dedicada à Santa Bárbara do catolicismo, com quem é sincretizada. Além disso, é nas quartas-feiras que ela costuma receber homenagens, sendo esse o dia da semana especialmente dedicado a ela.
Filhos de Iansã
Os filhos e filhas de Iansã são pessoas audaciosas e poderosas, que contam com a ajuda da deusa para enfrentar os desafios da vida. São batalhadores, expressam sensualidade e podem manifestar ciúmes em seus relacionamentos. São inteligentes, intensos e apresentam dificuldade em controlar seus impulsos emocionais.
Oiá é uma divindade protetora, que guarda seus filhos e filhas das tempestades da vida. Ela cuida das mulheres que trabalham no comércio, além de oferecer proteção às lideranças femininas. Por ser uma entidade independente e livre, guia seus seguidores pelo caminho da liberdade.
Saudação, cores, oferendas, animais e símbolos de Iansã
- Saudação: Epaheyy, Oyá! ("Olá, Iansã!")
- Cores: rosa, marrom, vermelho e branco.
- Oferendas (ebós) indicados: abará, acarajé e cabras.
- Oferendas (ebós) proibidos: abóbora, carne de arraia e carneiro.
- Animais: borboleta e o búfalo, que remetem à liberdade, leveza e força características de Iansã
- Símbolos: eruexuim (ou iruquerê) e a espada de cobre.
Bibliografia
- DOGUN, Guilherme. Iansã do Balé: senhora dos eguns. Rio de Janeira: Pallas, 2007.
- PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
Veja também:
- Oxum: quem é, história e significado na Umbanda
- Iemanjá: quem é, história e significado (Umbanda e Candomblé)
- Ogum: quem é e o seu significado (na Umbanda, Candomblé e Sincretismo)
- Xangô
- Oxalá
- Obá: quem é a orixá das águas doces
- Diferenças entre Candomblé e Umbanda
- Orixás: o que são e história na Umbanda e no Candomblé
- Exu: quem é, características e significado na Umbanda
- Obaluaê (Omolu): história do Orixá da cura