Ironia (Figura de Linguagem)

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

A ironia é uma figura de linguagem que ocorre quando se diz o contrário do que se quer dizer, gerando um efeito humorístico de crítica ou deboche. É um recurso expressivo muito comum, tanto nas conversas cotidianas quanto em textos literários e publicitários.

Exemplos de ironia:

  • "Minha filha é um exemplo de pontualidade. Só se atrasou cinco vezes esta semana!"
  • "Pedro é delicado como um rinoceronte."

Na ironia, o que é dito não deve ser interpretado literalmente, pois o verdadeiro sentido está na intenção oculta do falante ou escritor. O contexto (ou a entonação, na fala) é fundamental para entender a ironia. Sem ele, o ouvinte ou leitor pode não captar o tom irônico. Existem dois tipos de ironia: verbal e situacional.

A ironia faz parte das figuras de pensamento. Esses recursos expressivos alteram a maneira de comunicar ideias, indo além do sentido literal das palavras, empregando o sentido figurado ou conotativo.

Ironia

Tipos de ironia

Ironia verbal

Tipo mais comum, a ironia verbal ocorre quando se diz o contrário do que se quer dizer. Essa inversão de sentido é criada de maneira proposital, para provocar riso ou para fazer uma crítica sutil. Dependendo do contexto ou da entonação, não será necessariamente compreendida pela pessoa que ouve ou lê.

Nesta categoria, encontramos a ironia verbal, comum na fala, e a ironia dramática, presente em peças de teatro. A ironia dramática ocorre quando o público conhece informações que os personagens desconhecem, como em uma cena em que um vilão se esconde atrás de uma porta, enquanto o protagonista nada suspeita.

Exemplos:

  • "Liberdade é ter um chefe que decide tudo por você."
  • "Tereza se preparou tanto para a reunião que acabou esquecendo a data."
  • "Era tão forte quanto um graveto."

Ironia situacional ou observável

Como sugere o próprio nome, esse tipo de ironia ocorre em uma situação real, em uma ação. Nessas ações, o que acontece é totalmente diferente daquilo que se espera.

Esse tipo de ironia não depende, portanto, da fala de alguém ou de um discurso.

Exemplos:

  • Um guarda de trânsito sendo multado por estacionar em local proibido enquanto multa outros motoristas.
  • Bombeiro com medo de fogo.
  • Um professor de gramática que cometendo erros de português.

Exemplos de ironia

1. "Adoro quando meu time perde! É tão divertido ver a torcida feliz."

O falante usa ironia ao expressar prazer em uma situação que geralmente causa tristeza e frustração para os torcedores, já que a perda de um time não costuma ser motivo de alegria.

2, "Esse bolo é maravilhoso! Parece que foi feito de papelão."

Ao descrever o bolo como "maravilhoso" enquanto o compara a papelão, o falante usa ironia para expressar que o bolo é, na verdade, ruim.

3. "Amo acordar às quatro da manhã, pegar trânsito e chegar atrasado no trabalho."

A ironia está em afirmar que ama uma rotina desagradável, que normalmente causa desgosto.

4. "Minha dieta é ótima: pizza, refrigerante e batata frita."

Neste exemplo, a ironia vem do contraste entre a ideia de uma dieta saudável e a lista de alimentos fast food, sugerindo que a dieta não é, de fato, saudável.

5. Esse novo aplicativo é incrível! Não consigo entender nada."

Aqui, a ironia surge da contradição entre achar o aplicativo "incrível" e a dificuldade em utilizá-lo, expressando frustração.

6. "É meu maior fã! Só me critica diariamente nas redes sociais."

O falante usa ironia ao chamar alguém que frequentemente critica como "maior fã", indicando que, na verdade, as críticas são constantes e indesejadas.

7. Machado de Assis, "Memórias póstumas de Brás Cubas".

"[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido."

Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o narrador utiliza a ironia para criticar o exagero do discurso fúnebre proferido por um amigo. O amigo descreve a natureza como profundamente triste pela morte do narrador, criando um contraste irônico com a realidade do funeral, que foi bastante simples e com pouca participação.

8. Joaquim Manuel de Macedo, "A luneta mágica"

"A falta de dinheiro não podia embaraçar a execução do meu plano; eu contava tantos amigos que facilmente arranjaria quatro ou seis contos de réis.

Paguei o que devia no hotel e fui logo procurar o velho Nunes, e em seguida ao bom Damião e a mais quinze ou vinte, a todos os quais patenteei a minha situação, confiei o meu plano, e pedi algum dinheiro ou a título de empréstimo, ou em pagamento do que me deviam.

Triste observação!… Não achei em todos esses excelentes amigos um só que me acudisse com alguma e ainda diminuta quantia!… mas os pobres e honradíssimos homens asseguraram-me que em quinze dias ou um mês me levariam a casa trinta ou quarenta contos de réis."

Neste trecho do romance "A Luneta Mágica", de Joaquim Manuel de Macedo, a ironia aparece na diferença entre a expectativa do narrador e a realidade que se apresenta. Seus amigos, apesar de "excelentes", não o socorreram financeiramente.

Diferença entre ironia e sarcasmo

Embora a ironia e o sarcasmo sejam frequentemente confundidos, existem diferenças entre eles.

O sarcasmo é uma forma mais direta e agressiva de ironia, geralmente visando ofender ou humilhar. A ironia, por sua vez, pode ser mais sutil e menos hostil.

Exemplo:

Situação Exemplo de Sarcasmo Exemplo de Ironia
Uma pessoa se veste extravagantemente. "Que bom gosto! Você parece ter saído de um desfile de Halloween!" "Nossa, que roupa linda! Você está arrasando!"
Uma pessoa reclama de estar cansada sem ter feito nada o dia todo. "É exaustiva a rotina de fiscal da natureza, não é mesmo?" "Que dia cheio, o seu!"
Alguém quebra um objeto valioso por descuido. "Que ótima ideia! Quebrar isso era exatamente o que precisávamos!" "Que cuidado você teve! Impressionante!"

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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