Paradoxo (com exemplos)
Paradoxo é uma declaração contrária à opinião dominante ou a um princípio admitido como válido. O termo também significa ausência de nexo ou lógica.
Por exemplo, quando o escritor Oscar Wilde afirma que “A natureza imita a arte”, ele está anunciando um paradoxo, pois isso vai de encontro à opinião comum de que é a arte que imita a natureza. No entanto, a afirmação de Wilde também faz sentido, já que ele quer chamar a atenção para como o nosso olhar diante da natureza é influenciado pelas obras de arte.
Nos estudos literários, o paradoxo, também chamado de oximoro, é uma figura de linguagem que consiste na aproximação de ideias contraditórias, de modo que a expressão pareça completamente ilógica, absurda ou sem sentido.
Assim, quando Luís Vaz de Camões escreve em seu célebre soneto “é dor que desatina sem doer”, estamos diante de um paradoxo, já que são reunidas, num mesmo pensamento, duas ideias absolutamente opostas (“dor” e “desatina sem doer”) para definir o mesmo: o amor.
É, portanto, uma ideia lógica que transmite uma mensagem que contradiz a sua estrutura. O paradoxo expõe palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, estão relacionadas no mesmo texto. Por exemplo: "Quanto mais damos, mais recebemos", "O riso é uma coisa séria", "O melhor improviso é aquele que é melhor preparado".
A identificação de paradoxos tem auxiliado o progresso da ciência, da matemática e da filosofia. Na filosofia, paradoxo é um termo consagrado pelos filósofos estoicos para designar o que é aparentemente contraditório, mas que, apesar de tudo, tem sentido.
Exemplos de paradoxos
Paradoxo de Zenão
Os paradoxos do filósofo Zenão consistem em argumentos que têm como objetivo provar a inconsistência de alguns conceitos como a divisibilidade, movimento e multiplicidade.
Um dos exemplos mais conhecidos é a corrida entre Aquiles e uma tartaruga. Neste paradoxo, a tartaruga tem um avanço em relação a Aquiles, e este nunca consegue alcançar a tartaruga, porque quando Aquiles chega ao ponto do qual a tartaruga partiu, esta já se adiantou. Por exemplo, a tartaruga começa a corrida 100 metros adiantada. Quando Aquiles chega ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já se adiantou mais 10 metros. Quando Aquiles avança esses 10 metros, a tartaruga já se adiantou 1 metro, e assim infinitamente em distâncias infinitamente mais curtas. Este paradoxo tinha como propósito desacreditar o conceito de movimento contínuo.
Paradoxo temporal
O paradoxo temporal está relacionado com a ficção científica, mais concretamente com a temática de viagens no tempo. No caso específico do paradoxo do avô, um indivíduo viaja para o passado e mata o avô antes de ele conceber o seu pai. Desta forma, como o pai do viajante do tempo não nasceu, o próprio viajante não teria nascido. Mas se o viajante do tempo não nasceu, como é possível ter voltado no tempo para matar o seu avô? Aí reside o paradoxo desta situação.
Saiba mais sobre paradoxo temporal.
Paradoxo dos gêmeos
Também conhecido como paradoxo dos relógios, é uma conclusão da teoria da relatividade, segundo a qual, considerando os gêmeos A e B, se um deles fizer uma viagem espacial, no seu regresso será mais jovem do que o outro. Esta conclusão, que parece contrária ao senso comum, foi verificada em várias experiências.
Paradoxo de Epicuro
O paradoxo de Epicuro está baseado em três características que são atribuídas a Deus: onipotência, onisciência e onibenevolência (benevolência ilimitada). Epicuro afirma que, perante a existência do Mal, Deus não pode apresentar as três características em simultâneo, porque a presença de duas delas exclui de forma automática a terceira.
Se Deus é onipotente e onisciente, Ele tem poder para eliminar o Mal e conhecimento a respeito dele, mas se ele ainda existe, é porque Deus não é onibenevolente. No caso de Deus ser onisciente e onibenevolente, Ele sabe tudo a respeito do Mal e tem vontade de extingui-lo, mas como não é onipotente, não pode eliminá-lo. No último cenário, sendo Deus onipotente e onibenevolente. Ele tem poder para destruir o Mal e quer fazer isso, mas não pode porque não tem conhecimento a seu respeito.
Paradoxo enquanto figura de linguagem
Relacionado com a antítese, o paradoxo é uma figura de linguagem que consiste no emprego de palavras que, mesmo opostas no sentido, vão se fundir num mesmo enunciado. É uma declaração aparentemente verdadeira, mas que leva a uma contradição lógica ou que contradiz a intuição comum. Alguns exemplos de paradoxo como figura de linguagem são: "O nada é tudo", "Eu estou cheio de me sentir vazio", "O silêncio é o melhor discurso".
Exemplos de paradoxo na literatura
Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio
(Luís Vaz de Camões)
Tenho bastante em ter nada
(Fernando Pessoa)
Que não vejo, mas vejo,
Que não ouço, mas ouço,
Que não sonho, mas sonho,
Que não sou eu, mas outro…
(Fernando Pessoa)
Sei que a morte, que é tudo, não é nada
(Fernando Pessoa)
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
(Luís Vaz de Camões)
Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Quem acha vive se perdendo
(Noel Rosa)
Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente eu estou sentindo frio
(Legião Urbana)
O maior paradoxo do desejo não está em procurar-se sempre outra coisa: está em se procurar a mesma, depois de se ter encontrado. (Vergílio Ferreira)
O que não está nunca ao nosso alcance é ter o que se procura, depois de se alcançar.
(Vergílio Ferreira)
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão
(Vinicius de Moraes)
Há só janelas de par em par encostadas por causa do calor que já não faz,
E o quintal cheio de luz sem luz…
(Fernando Pessoa)
Veja também:
- Antítese (figura de linguagem)
- O que é um Paradoxo Temporal (com exemplos)
- Metonímia
- Oximoro
- Significado de Caos
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