Regência Verbal

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

A regência verbal trata da relação entre os verbos e seus complementos, isto é, as palavras que completam seu sentido. Em outras palavras, é a maneira como um verbo se liga aos termos que o acompanham na frase, exigindo ou não o uso de preposições.

Os verbos atuam como termos regentes, enquanto os objetos (direto e indireto) e os adjuntos adverbiais são os termos regidos.

A regência verbal, portanto, está relacionada transitividade verbal. Isso envolve entender se um verbo é transitivo (precisa de complemento) ou intransitivo (não precisa de complemento), e se é transitivo direto, indireto, ou bitransitivo (que admite ambos os tipos de complemento).

Exemplos:

1. "João comprou um carro."

Neste primeiro exemplo, o verbo "comprar" exige um complemento sem o uso de preposição, um objeto direto. O verbo, portanto, é transitivo direto.

2. "Mariana gosta de música."

Já aqui, o verbo "gostar" necessita de um complemento introduzido pela uma preposição "de" (objeto indireto). Trata-se, então, de um verbo transitivo indireto.

3. "O rapaz entregou o livro ao amigo."

Neste terceiro, por sua vez, o verbo "entregar" exige dois complementos: um direto (sem preposição) e outro indireto (com preposição). É, deste modo, um verbo transitivo direto e indireto (bitransitivo).

4. "O sol nasceu."

Por fim, neste último exemplo, o verbo "nascer" não exige complemento para completar seu sentido. A ação de nascer é completa em si mesma e não requer nenhum complemento. Ou seja, o verbo é intransitivo.

Regência verbal

Verbos com mais de uma regência

Alguns verbos possuem uma regência própria, dependendo do sentido, exigindo ou não o uso de preposições. Vejamos a seguir os principais casos:

Aspirar

1. No sentido de respirar, não exige preposição.

Exemplos:

  • "Aspirei o ar puro."
  • "Aspirei profundamente o aroma da montanha."

2. No sentido de almejar, exige a preposição "a".

Exemplos:

  • "Aspiro a um futuro melhor."
  • "Aspirava a uma vida mais tranquila."

Assistir

1. No sentido de ver, exige a preposição "a".

Exemplos:

  • "Assisti ao filme."
  • "Assisti à apresentação de dança."

2. No sentido de ajudar, não exige preposição.

Exemplos:

  • "Assisti o amigo."
  • "O médico assistiu o paciente durante a cirurgia."

Chamar

1. No sentido de convocar, não exige preposição.

Exemplos:

  • "Chama o Pedro!"
  • "Chamei um táxi."

2. No sentido de apelidar ou qualificar, exige a preposição "de".

Exemplos:

  • "O menino me chamou de feio."
  • "Chamaram-no de mentiroso."

Chegar

O verbo "chegar" exige um complemento introduzido pela preposição "a".

Exemplos:

  • "Chegamos ao local indicado no mapa."
  • "Chegou ao destino sem problemas."

No entanto, no uso coloquial ou informal da língua, é comum o emprego da preposição "em" em vez da preposição "a" com o verbo "chegar".

Exemplos:

  • "Chegamos no local indicado no mapa."
  • "Cheguei em casa tarde."

Custar

1. No sentido de ser custoso, exige preposição.

Exemplos:

  • "Aquela escolha custou à equipe.'
  • "Custou-me muito tomar essa decisão."

2. No sentido de valor, não exige preposição.

Exemplos:

  • "O carro novo custou caro."
  • "A festa custou aos pais muito dinheiro."

Esquecer

O verbo esquecer é transitivo direto, logo não exige preposição.

Exemplos:

  • "Esqueci a reunião importante."
  • "Esqueceram o compromisso marcado."

No entanto, na forma pronominal, deve ser usado com preposição:

Exemplos:

  • "Esqueci-me da reunião importante."
  • "Esqueceram-se dos detalhes importantes."

Implicar

1. No sentido de consequência, o verbo "implicar" é transitivo direto, logo não exige preposição.

Exemplos:

  • "A mudança no projeto implicará novos prazos."
  • "Essa decisão implicará mudanças significativas."

2. No sentido de "embirrar", é transitivo indireto, logo exige preposição.

Exemplos:

  • "Ele implica com os colegas o tempo todo!"
  • "Helena implica com tudo que Lourenço faz."

Obedecer

O verbo obedecer é transitivo indireto, logo, exige preposição.

Exemplos:

  • "Obedeça às regras do jogo!"
  • "Obedeça ao treinador!"

Na linguagem informal, entretanto, ele é usado como verbo transitivo direto.

Exemplos:

  • "Obedeça seu pai!"
  • "Obedeça sua professora!"

Pagar

1. Quando informamos o que pagamos, o complemento não tem preposição.

Exemplos:

  • "Pagaste a conta?"
  • "Pagaram as despesas do evento?"

2. Quando informamos a quem pagamos, o complemento exige preposição.

Exemplos:

  • "Pague ao garçom."
  • "Paguei ao proprietário."

Querer

1. No sentido de desejar, não exige preposição.

Exemplos:

  • "Quero viajar nas férias."
  • "Quero um computador novo."

2. No sentido de estimar, exige preposição.

Exemplos:

  • "Jonas queria muito aos seus irmãos."
  • "Ela queria muito aos seus avós."

Proceder

1. No sentido de fundamento, é verbo intransitivo.

Exemplos:

  • "Essa informação não procede."
  • "Seus argumentos não procedem."

2. Com o sentido de origem, exige preposição.

Exemplos:

  • "Essa informação procede de fontes confiáveis."
  • "Esse costume procede de antigas tradições."

Visar

1. No sentido de mirar, não exige preposição.

Exemplos:

  • "Visou o alvo."
  • "Visou o prêmio com determinação."

2. No sentido de ter como objetivo, exige a preposição "a".

Exemplos:

  • "Viso a aprovação no concurso."
  • "Visamos à excelência em nossos produtos."

Diferença entre Regência Verbal e Nominal

A regência, tanto verbal quanto nominal, trata da relação de dependência que um termo estabelece com outro em uma oração. Essa relação é marcada pela exigência ou não de preposições, determinando a construção correta das frases.

Como vimos anteriormente, a regência verbal trata da relação entre um verbo e seus complementos. O verbo pode ser transitivo ou intransitivo e, dependendo do caso, pode exigir um complemento com ou sem preposição.

Exemplos:

  • "Assisti ao filme." (verbo transitivo indireto que exige a preposição "a")
  • "Juliana gosta de chocolate." (Verbo transitivo indireto que exige a preposição "de")

Já a regência nominal trata da relação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seus complementos. Nomes que expressam sentimentos, estados ou qualidades, por exemplo, costumam exigir complementos regidos por preposições.

Exemplos:

  • "Elsa tem amor a sua família." (substantivo que exige a preposição "a")
  • "Zeca está ansioso por boas notícias." (adjetivo que exige a preposição "por")

Execícios

Questão 1

Considerando que o verbo "esquecer" na forma pronominal exige preposição, marque a alternativa com a frase correta.

a) Esqueci da prova.

b) Esqueci-me da prova.

c) Esqueci à prova.

d) Esqueci-me a prova.

Questão 2

Na frase "Ele aspirava ___ uma promoção no trabalho", assinale a alternativa com a preposição correta a ser usada.

a) "em"

b) "por"

c) "a"

d) "com"

Questão 3

Assinale a alternativa com a regência verbal correta.

a) Aspirei o cargo de gerente.

b) Assisti o filme ontem à noite.

c) Prefiro mais café do que chá.

d) Esqueci meu celular em casa.

e) Cheguei no cinema atrasado.

Bibliografia:

  • BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 1999.
  • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1991.

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
Outros conteúdos que podem interessar