Regência Verbal
A regência verbal trata da relação entre os verbos e seus complementos, isto é, as palavras que completam seu sentido. Em outras palavras, é a maneira como um verbo se liga aos termos que o acompanham na frase, exigindo ou não o uso de preposições.
Os verbos atuam como termos regentes, enquanto os objetos (direto e indireto) e os adjuntos adverbiais são os termos regidos.
A regência verbal, portanto, está relacionada transitividade verbal. Isso envolve entender se um verbo é transitivo (precisa de complemento) ou intransitivo (não precisa de complemento), e se é transitivo direto, indireto, ou bitransitivo (que admite ambos os tipos de complemento).
Exemplos:
1. "João comprou um carro."
Neste primeiro exemplo, o verbo "comprar" exige um complemento sem o uso de preposição, um objeto direto. O verbo, portanto, é transitivo direto.
2. "Mariana gosta de música."
Já aqui, o verbo "gostar" necessita de um complemento introduzido pela uma preposição "de" (objeto indireto). Trata-se, então, de um verbo transitivo indireto.
3. "O rapaz entregou o livro ao amigo."
Neste terceiro, por sua vez, o verbo "entregar" exige dois complementos: um direto (sem preposição) e outro indireto (com preposição). É, deste modo, um verbo transitivo direto e indireto (bitransitivo).
4. "O sol nasceu."
Por fim, neste último exemplo, o verbo "nascer" não exige complemento para completar seu sentido. A ação de nascer é completa em si mesma e não requer nenhum complemento. Ou seja, o verbo é intransitivo.
Verbos com mais de uma regência
Alguns verbos possuem uma regência própria, dependendo do sentido, exigindo ou não o uso de preposições. Vejamos a seguir os principais casos:
Aspirar
1. No sentido de respirar, não exige preposição.
Exemplos:
- "Aspirei o ar puro."
- "Aspirei profundamente o aroma da montanha."
2. No sentido de almejar, exige a preposição "a".
Exemplos:
- "Aspiro a um futuro melhor."
- "Aspirava a uma vida mais tranquila."
Assistir
1. No sentido de ver, exige a preposição "a".
Exemplos:
- "Assisti ao filme."
- "Assisti à apresentação de dança."
2. No sentido de ajudar, não exige preposição.
Exemplos:
- "Assisti o amigo."
- "O médico assistiu o paciente durante a cirurgia."
Chamar
1. No sentido de convocar, não exige preposição.
Exemplos:
- "Chama o Pedro!"
- "Chamei um táxi."
2. No sentido de apelidar ou qualificar, exige a preposição "de".
Exemplos:
- "O menino me chamou de feio."
- "Chamaram-no de mentiroso."
Chegar
O verbo "chegar" exige um complemento introduzido pela preposição "a".
Exemplos:
- "Chegamos ao local indicado no mapa."
- "Chegou ao destino sem problemas."
No entanto, no uso coloquial ou informal da língua, é comum o emprego da preposição "em" em vez da preposição "a" com o verbo "chegar".
Exemplos:
- "Chegamos no local indicado no mapa."
- "Cheguei em casa tarde."
Custar
1. No sentido de ser custoso, exige preposição.
Exemplos:
- "Aquela escolha custou à equipe.'
- "Custou-me muito tomar essa decisão."
2. No sentido de valor, não exige preposição.
Exemplos:
- "O carro novo custou caro."
- "A festa custou aos pais muito dinheiro."
Esquecer
O verbo esquecer é transitivo direto, logo não exige preposição.
Exemplos:
- "Esqueci a reunião importante."
- "Esqueceram o compromisso marcado."
No entanto, na forma pronominal, deve ser usado com preposição:
Exemplos:
- "Esqueci-me da reunião importante."
- "Esqueceram-se dos detalhes importantes."
Implicar
1. No sentido de consequência, o verbo "implicar" é transitivo direto, logo não exige preposição.
Exemplos:
- "A mudança no projeto implicará novos prazos."
- "Essa decisão implicará mudanças significativas."
2. No sentido de "embirrar", é transitivo indireto, logo exige preposição.
Exemplos:
- "Ele implica com os colegas o tempo todo!"
- "Helena implica com tudo que Lourenço faz."
Obedecer
O verbo obedecer é transitivo indireto, logo, exige preposição.
Exemplos:
- "Obedeça às regras do jogo!"
- "Obedeça ao treinador!"
Na linguagem informal, entretanto, ele é usado como verbo transitivo direto.
Exemplos:
- "Obedeça seu pai!"
- "Obedeça sua professora!"
Pagar
1. Quando informamos o que pagamos, o complemento não tem preposição.
Exemplos:
- "Pagaste a conta?"
- "Pagaram as despesas do evento?"
2. Quando informamos a quem pagamos, o complemento exige preposição.
Exemplos:
- "Pague ao garçom."
- "Paguei ao proprietário."
Querer
1. No sentido de desejar, não exige preposição.
Exemplos:
- "Quero viajar nas férias."
- "Quero um computador novo."
2. No sentido de estimar, exige preposição.
Exemplos:
- "Jonas queria muito aos seus irmãos."
- "Ela queria muito aos seus avós."
Proceder
1. No sentido de fundamento, é verbo intransitivo.
Exemplos:
- "Essa informação não procede."
- "Seus argumentos não procedem."
2. Com o sentido de origem, exige preposição.
Exemplos:
- "Essa informação procede de fontes confiáveis."
- "Esse costume procede de antigas tradições."
Visar
1. No sentido de mirar, não exige preposição.
Exemplos:
- "Visou o alvo."
- "Visou o prêmio com determinação."
2. No sentido de ter como objetivo, exige a preposição "a".
Exemplos:
- "Viso a aprovação no concurso."
- "Visamos à excelência em nossos produtos."
Diferença entre Regência Verbal e Nominal
A regência, tanto verbal quanto nominal, trata da relação de dependência que um termo estabelece com outro em uma oração. Essa relação é marcada pela exigência ou não de preposições, determinando a construção correta das frases.
Como vimos anteriormente, a regência verbal trata da relação entre um verbo e seus complementos. O verbo pode ser transitivo ou intransitivo e, dependendo do caso, pode exigir um complemento com ou sem preposição.
Exemplos:
- "Assisti ao filme." (verbo transitivo indireto que exige a preposição "a")
- "Juliana gosta de chocolate." (Verbo transitivo indireto que exige a preposição "de")
Já a regência nominal trata da relação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seus complementos. Nomes que expressam sentimentos, estados ou qualidades, por exemplo, costumam exigir complementos regidos por preposições.
Exemplos:
- "Elsa tem amor a sua família." (substantivo que exige a preposição "a")
- "Zeca está ansioso por boas notícias." (adjetivo que exige a preposição "por")
Execícios
Questão 1
Considerando que o verbo "esquecer" na forma pronominal exige preposição, marque a alternativa com a frase correta.
a) Esqueci da prova.
b) Esqueci-me da prova.
c) Esqueci à prova.
d) Esqueci-me a prova.
Questão 2
Na frase "Ele aspirava ___ uma promoção no trabalho", assinale a alternativa com a preposição correta a ser usada.
a) "em"
b) "por"
c) "a"
d) "com"
Questão 3
Assinale a alternativa com a regência verbal correta.
a) Aspirei o cargo de gerente.
b) Assisti o filme ontem à noite.
c) Prefiro mais café do que chá.
d) Esqueci meu celular em casa.
e) Cheguei no cinema atrasado.
Bibliografia:
- BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 1999.
- CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1991.
Veja também: