Sinestesia
Sinestesia é a figura de linguagem que mistura sensações de sentidos diferentes em uma mesma expressão. Em outras palavras, utiliza palavras que se referem a um sentido para descrever outro.
Exemplos:
- "Um azul gritante." (visão e audição)
- "O cheiro aveludado do café." (olfato e tato)
- "A música quente do verão."(audição e tato)
No primeiro exemplo, a sinestesia mistura a cor "azul" com "gritante", um termo associado ao som. Isso sugere que a cor é tão intensa que parece "gritar" para o observador.
No segundo, o termo "aveludado", normalmente associado à textura tátil, para descrever o cheiro do café, sugerindo que o aroma é suave e envolvente.
Por fim, no terceiro, descreve-se a música como "quente", um termo relacionado ao tato, para sugerir que transmite a sensação de calor e vivacidade do verão.
"Sinestesia" é uma palavra que vem do grego synaísthesis. Synsignifica "união" e esthesia, "sensação". Assim, uma possível tradução literal seria "sensação simultânea".
A sinestesia pertence ao grupo das figuras de palavra. Esses recursos estilísticos usam palavras no sentido figurado, diferente do literal, para criar efeitos expressivos.
Exemplos de sinestesia
1. "O perfume doce da manhã." (olfato e paladar)
2. O sabor áspero da saudade me adoeceu." (paladar e tato)
3. A cor fria do inverno invadiu meu coração." (visão e tato)
4. "O sabor quente do sol." (paladar e tato)
5. "O som aveludado da sua voz me acalmava." (audição e tato)
6. "O gosto luminoso da fruta." (paladar e visão)
7. Trecho do romance "Os Mais", de Eça de Queirós`:
"Fora um dia de inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda abertas. Sobre o rio, no céu largo, a tarde morria, sem uma aragem, numa paz elísia, com nuvenzinhas muito altas, paradas, tocadas de cor de rosa; as terras, os longes da outra banda já se iam afogando num vapor aveludado, do tom de violeta; a água jazia liza e luzidia como uma bela chapa d'aço novo; e aqui e além, pelo vasto ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois couraçados ingleses, dormiam, com as mastreações imóveis, como tomados de preguiça, cedendo ao afago do clima doce..."
8. Trecho do poema "Correspondências", de Charles Baudelaire:
"Numa crepuscular e profunda unidade,
Tão vasta como a noite e a claridade,
Conversam os perfumes, as cores, os sons.
Há cheiros frescos como dos recém-nascidos,
Doces como oboé, verdes como um jardim"
9. Trecho da canção "Vagalume", de Curumim:
"Sinto cheiro desse rio
É doce, é doce, é doce, é doce
Sigo sua beleza, suas curvas, sua natureza"
10. Trecho da canção "Azul", de Djavan:
"Se acaso anoitecer
Do céu perder o azul
Entre o mar e o entardecer
Alga marinha vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul
Essa cor não sai de mim
Bate e finca pé a sangue de rei"
Curiosidade sobre a sinestesia: na medicina, a sinestesia é uma condição neurológica em que um estímulo pode gerar sensações de diferentes sentidos simultaneamente, como associar sons a cores. Não é uma doença, mas uma forma particular de processamento sensorial, muitas vezes hereditária. Cerca de 1 em cada 300 pessoas tem sinestesia, e indivíduos com essa condição costumam ter memória e criatividade destacadas.
Exercícios
1. Qual das seguintes frases exemplifica a sinestesia?
a) "A música estava muito alta durante o concerto."
b) "O cheiro forte e marrom do café."
c) "Ele descreveu a textura da cadeira como confortável."
d) "A luz estava muito clara no escritório."
2. Qual é a origem do termo 'sinestesia'?
a) Latim, significando "sensação múltipla"
b) Grego, significando "sensação simultânea"
c) Francês, significando "sensação combinada"
d) Alemão, significando "sensação cruzada"
3. Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre sua relação com as pequenas e grandes cidades.
"Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.
A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições
me assusta quase tanto quanto
esse abismo
de gases e de estrelas
aberto sob minha cabeça."
Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.
a) “e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada.”
b) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho”
c) “A natureza me assusta / Com seus matos sombrios suas águas”
d) “suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto”
e) “me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gases e de estrelas”
RESPOSTAS: 1 b), 2 b). 3 a)
Veja também: