Socialismo

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

Socialismo é uma doutrina política, econômica e filosófica que defende mudanças na sociedade para promover maior igualdade social.

Propõe que os meios de produção (como fábricas, terras e maquinários) e os recursos econômicos sejam controlados pela classe trabalhadora, em vez de ficarem nas mãos de poucos proprietários. Acreditando que dessa forma a sociedade será mais justa e todos terão melhores condições de vida.

O socialismo surgiu que no final do século XVIII, durante a Revolução Industrial, época em que muitos trabalhadores viviam em condições difíceis nos centros industriais da Europa.

Nessa período, o liberalismo e o individualismo eram dominantes, mas o socialismo se desenvolveu como uma reação a esses valores, propondo uma reorganização da sociedade, baseada em cooperação e solidariedade, para proteger o bem-estar da maioria.

Na economia, o socialismo se opõe ao liberalismo. Enquanto o liberalismo se apoia na propriedade privada e no mercado, o socialismo valoriza a produção orientada para as necessidades de todos, e não para o lucro de alguns.

Existem organizações políticas de caráter socialista em todo o mundo, incluindo os partidos políticos. Eles defendem os princípios socialista e geralmente buscam reformas que melhorem as condições de vida da classe trabalhadora.

Características do socialismo

As principais características do socialismo são:

  • Propriedade coletiva dos meios de produção - os meios de produção, como fábricas, terras e recursos naturais, são de propriedade coletiva, administrado pelo Estado, cooperativas ou pela própria comunidade. O objetivo é evitar a concentração de riqueza e garantir que todos se beneficiem do que é produzido.
  • Igualdade social e econômica - propões a redução das desigualdades econômicas e sociais, promovendo um sistema onde todos tenham acesso às mesmas oportunidades e benefícios.
  • Economia estatizada - a economia é planejada e organizada de forma centralizada pelo Estado ou por órgãos de gestão coletiva, evitando o desperdício de recursos e orientando a produção para atender às necessidades básicas da população.
  • Ênfase na justiça social - defende uma sociedade mais justa, onde todos os indivíduos tenham direitos iguais, e onde as decisões sejam tomadas para o bem comum.
  • Ausência de lucro como objetivo - o lucro individual não é uma finalidade, mas sim o bem-estar coletivo.
  • Gestão participativa - muitos modelos socialistas promovem a participação direta dos cidadãos nas decisões políticas e econômicas.
  • Valorização do trabalho - valoriza o papel do trabalho na construção da sociedade e defende que todos os trabalhadores sejam respeitados e recompensados de forma justa.

O que é um Estado socialista

Um Estado socialista, teoricamente, é um sistema de governo onde os meios de produção são de propriedade pública ou coletiva. A economia é organizada e controlada pelo Estado visando promover a igualdade social e reduzir a desigualdade econômica.

Em um Estado socialista, o governo assume a responsabilidade de planejar e gerir a economia para atender às necessidades básicas da população, como saúde, educação e habitação, priorizando o bem-estar coletivo em vez do lucro individual.

Trata-se de um sistema de governo que realiza redistribuição de riqueza para reduzir ou acabar com a desigualdade econômica. Por exemplo, com políticas de redistribuição de renda, impostos progressivos e programas sociais.

Um Estado socialista também busca implementar políticas que promovam justiça social, igualdade de oportunidades e a participação ativa dos cidadãos nas decisões políticas e econômicas. Contudo, os graus de participação variam conforme o modelo adotado.

Tipos de Socialismo

Duas estátuas em cinza escuro de dois homens barbudos e bem vestidos, sentados em um banco, um voltado para o outro enquanto conversam.
Monumento de Karl Marx e Friedrich Engels, pais do socialismo científico, no Quirguistão.

O socialismo possui diversas correntes de pensamento, escolas e tendências. Todas elas possuem em comum as características fundamentais que configuram o socialismo.

No entanto, cada uma compreende maneiras distintas de realizar a mudança social, ainda que o objetivo final possa ser comum: a realização do princípio da igualdade.

Socialismo Utópico

O socialismo utópico foi uma corrente de pensamento criada no início do século XIX por Robert Owen (1771-1858), Saint-Simon (1760-1825) e Charles Fourier (1772-1837). Surgiu como uma resposta crítica ao capitalismo, buscando soluções para os problemas gerados pela sociedade industrial.

O termo "socialismo utópico" foi inspirado pela obra Utopia de Thomas More. Esses primeiros socialistas aspiravam à construção de uma sociedade mais harmônica e justa, fundamentada no comunitarismo e na distribuição igualitária de recursos.

Apesar de reconhecerem a relevância desses pensadores, Marx e Engels tomaram um rumo diferente. Criticaram o socialismo utópico por seu caráter idealista, afirmando que ignorava as contradições da sociedade capitalista e a importância da luta de classes, carecendo de um caminho concreto para alcançar o socialismo.

Socialismo científico

O socialismo científico, desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels, propõe uma análise científica do capitalismo visando superá-lo. Também chamado de marxismo, diferencia-se do socialismo utópico por oferecer uma "ciência" da revolução.

O socialismo científico apresenta uma explicação a partir de leis que regem o surgimento e o funcionamento do sistema capitalista, para, então, identificar caminhos para sua transformação. Essa abordagem foi crucial para o desenvolvimento da sociologia e das ciências sociais ao longo do século XX.

Para o socialismo científico, após a superação da fase capitalista, haveria uma sociedade socialista provisória até comunismo ser alcançado, onde todos os recursos e o poder estariam nas mãos da coletividade.

O marxismo baseia-se no materialismo histórico, que busca uma compreensão racional da sociedade e das contradições que nela existem. Analisando formações econômicas passadas, como o feudalismo, investiga as leis que regem o nascimento e o desaparecimento de diferentes sistemas sociais.

Para o socialismo científico, entender a história só tem valor prático quando se transforma em ação política. Assim, cabe à classe trabalhadora, o proletariado, assumir a liderança na construção de uma nova ordem social que atenda aos seus próprios interesses.

Socialismo real

Selo em tons de vermelho e amarelo que mostra os rostos de Marx, Engels e Lênin acompanhado de uma multidão de apoiantes.
Selo da antiga União Soviética, que mostra os rostos de Marx, Engels e Lênin.

O termo "socialismo real" refere-se aos países que buscaram implementar os ideais socialistas. Vale destacar que o socialismo idealizado pelos teóricos do século XIX, e ainda mais o comunismo, nunca foram totalmente estabelecidos em nenhum país.

No século XX, as ideias socialistas inspiraram a construção de sistemas políticos, econômicos e sociais em diversos Estados. Alguns desses países passaram por revoluções de orientação socialista, lideradas por figuras importantes, como:

  • União Soviética: Lênin, Trotsky e Stalin;
  • China: Mao Tse-Tung;
  • Cuba: Fidel Castro e Ernesto "Che" Guevara;
  • Coreia do Norte: Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un;
  • Alemanha Oriental: Walter Ulbricht;
  • Vietnã: Ho Chi Minh;
  • Iugoslávia: Marechal Tito;
  • Burkina Faso: Thomas Sankara.

Esses regimes socialistas estabeleceram diferentes sistemas políticos e econômicos inspirados em teorias marxistas. No entanto, enfrentaram desafios, como isolamento internacional, crises econômicas, e, em alguns casos, autoritarismo.

Muitos desses países passaram a adotar reformas econômicas de mercado ou colapsaram devido a pressões internas e externas. O socialismo real possui um legado complexo sobre economia, política e direitos sociais.

Exemplos de países socialistas

Atualmente, poucos países se autodenominam socialistas e implementam políticas que refletem características do que seria um Estado socialista. A maioria deles adota um modelo misto que combina elementos socialistas com práticas de economia de mercado. Por exemplo:

  • Cuba - o país mantém um sistema de partido único e um controle estatal significativo sobre a economia, com muitos setores sendo de propriedade pública. Apesar de ter iniciado reformas para permitir algumas iniciativas de negócios privados, o governo ainda é responsável pela maioria dos serviços e indústrias.
  • Venezuela - o governo venezuelano, especialmente sob a liderança de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, buscou implementar políticas socialistas, nacionalizando indústrias-chave, como petróleo e telecomunicações. No entanto, o país enfrenta uma grave crise econômica e muitos críticos argumentam que as políticas adotadas não conseguiram alcançar os objetivos socialistas desejados.
  • Coreia do Norte - é considerada um Estado socialista sob liderança autoritária, com uma economia planificada centralmente. O governo controla quase todos os aspectos da vida econômica e social.
  • China - o país adotou reformas de mercado os anos 1980 e conseguiu se transformar na segunda maior economia do mundo. O Partido Comunista Chinês mantém controle sobre a política e o sistema econômico. Denominam seu modelo de "socialismo com características chinesas", pois mistura práticas capitalistas com um governo forte.

Origem do socialismo

O jornalista e agitador francês Noël Babeuf (1760-1797) é reconhecido como um dos precursores do socialismo. Tendo defendido, final do século XVIII, propostas de caráter socialista, como reformas agrária e tributária.

No século XIX, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) se tornaram as figuras centrais do socialismo, fundando o que chamaram de "socialismo científico". Essa abordagem, fundamentada em um método científico, criticava o regime capitalista e propunha um programa político voltado para a libertação da classe trabalhadora.

O objetivo desse programa era a superação das classes sociais capitalistas, culminando no comunismo. Uma forma de organização social na qual o Estado e a propriedade privada dos meios de produção seriam abolidos.

Na teoria marxista, o socialismo é visto como a fase intermediária entre o final do capitalismo e a plena implantação do comunismo. Durante essa fase, o povo assumiria os negócios do Estado e os administraria com base em seus interesses, promovendo uma organização racional das forças produtivas.

Para Marx e Engels, essa etapa é considerada historicamente necessária para a construção de um novo modo de vida, livre da ideologia capitalista e que levaria ao comunismo. Contudo, até o momento, nenhum Estado conseguiu transcender plenamente essa fase, resultando na ausência de uma experiência comunista completa no mundo.

Ao longo dos séculos XX e XXI, várias experiências socialistas foram tentadas, variando em suas abordagens e resultados, mas nenhuma alcançou o ideal comunista almejado. Essa realidade levanta debates contínuos sobre a viabilidade do socialismo e sua capacidade de proporcionar uma sociedade mais justa e igualitária.

Veja também:

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
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