Surrealismo

Revisão por Carolina Marcello

Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

O Surrealismo foi um movimento artístico e literário do século XX que integrou as vanguardas europeias. É caracterizado pela expressão do pensamento de maneira espontânea e automática, através de impulsos do subconsciente, desprezando a lógica. Além disso, renega os padrões morais e sociais estabelecidos .

Com origem em Paris, na década de 1920, o movimento buscava transcender a realidade racional e explorar o subconsciente humano. Liderado por André Breton, o Surrealismo foi influenciado amplamente pelas teorias de Freud e se expandiu pela Europa, ecoando por outras partes do mundo.

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Características do Surrealismo

Exploração do inconsciente

O surrealismo foi muito influenciado pela teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que destacava a importância do inconsciente na formação do comportamento humano. Seus artistas buscavam explorar os recantos da mente, dando expressão visual e literária aos sonhos, desejos reprimidos e pensamentos subconscientes.

Desautomatização

André Breton, em seu manifesto surrealista, propôs o conceito de "desautomatização" como um meio de romper com as convenções automáticas da mente racional. Essa ideia visava liberar a mente das amarras lógicas e permitir uma expressão mais autêntica e espontânea.

Escrita automática

Uma técnica literária fundamental do surrealismo é a escrita automática, na qual os escritores produzem textos sem controle consciente ou censura. Essa prática permitia que ideias e imagens fluíssem diretamente do inconsciente para o papel, resultando em obras frequentemente desconcertantes.

Colagem e montagem

Nas artes visuais, o surrealismo frequentemente empregava técnicas de colagem e montagem para criar composições inusitadas. A combinação de elementos aparentemente desconexos criava imagens surreais e provocativas, desafiando a lógica e a realidade convencional.

Imagens surrealistas

As obras visuais surrealistas muitas vezes apresentavam imagens perturbadoras, oníricas e fantásticas. Elementos como distorções da realidade, metamorfoses, seres híbridos e ambientes estranhos eram comuns.

Principais artistas e obras do Surrealismo

Pintura

No âmbito das artes plásticas, o pintor catalão Salvador Dalí é o nome mais conhecido do surrealismo. Na primeira fase do movimento, foram seguidas algumas noções do dadaísmo como os objetos fora do contexto.

Muitos artistas usavam meios técnicos tradicionais da pintura e representavam mitos, fábulas e sonhos, que seguiam as normas surrealistas criadas em 1924 por Breton.

Algumas dessas normas exaltavam os processos oníricos e da imaginação, assim como demonstrações da paixão erótica e do humor corrosivo. Eram, portanto, manifestações opostas à cultura e aos valores tradicionais burgueses.

A Galeria Surrealista foi fundada por um grupo em 1926 e a partir de 1930 o surrealismo começou a se propagar para além de França.

Algumas exposições importantes foram organizadas na Dinamarca, Tchecoslováquia, Canárias, Londres, Nova Iorque e também em Paris (1938), onde foram reveladas obras de artistas de 22 países. Neste período, novos membros se juntaram ao movimento, entre eles Salvador Dali e Giacometti.

Salvador Dalí

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, mais conhecido como Salvador Dalí, é, sem dúvida, o artista mais famoso do Surrealismo.

Nascido em 1904 na cidade de Figueres, Espanha, Dalí desenvolveu um estilo único e inconfundível, tanto em seus trabalhos quanto em seus modos, tornando-se mundialmente famoso. É autor de obras surrealistas emblemáticas, como A persistência da memória, de 1931.

Além da pintura, também atuou no cinema, na fotografia, na escultura e na poesia.

René Magritte

O belga René François Ghislain Magritte (1898-1967) foi um dos principais artistas do Surrealismo. Influenciado pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico, desenvolveu um estilo singular, chamado ora de surrealismo realista, ora de realismo mágico.

Suas obras costumam apresentar uma espécie de paradoxo visual. Os elementos são representados de maneira realista, mas a sua junção forma um conjunto insólito, realçando o caráter metafórico de sua pintura.

Entre elas, se destaca A traição das imagens (1929), que vem questionar a natureza da representação artística. A tela diz que "Isto não é um cachimbo", porque não se trata de um objeto real, mas sim de uma representação dele.

Joan Miró

Joan Miró i Ferrà (1893-1983) foi um dos mais importantes artistas do Surrealismo. O pintor e escultor espanhol mudou-se no início do século XX para Paris, onde entrou em contato com as vanguardas modernistas, especialmente o Dadaísmo e o Fauvismo. Após conhecer o poeta André Breton, em 1923, integrou o então recém-formado grupo surrealista.

A obra de Miró é marcada por uma simbologia que remete à fantasia, mas sem adentrar nas teses freudianas, como muitos dos seus colegas.

O uso frequente de pontos e linhas dispostos de maneira espontânea na tela vazia demonstra a "tradução poética" da realidade pretendida pelo pintor. Alguns exemplos mais famosos são Carnaval do Arlequim (1925) e Cachorro Latindo para a Lua (1926).

Max Ernst

Max Ernst (1891-1976) foi um pintor, poeta e escultor surrealista de grande relevância. Autodidata, aprendeu a pintar sozinho enquanto estudava Psicologia e Filosofia na Alemanha. Seus primeiros trabalhos, entretanto, foram interrompidos pela eclosão da Primeira Grande Guerra, para a qual foi convocado.

Em 1922, mudou-se para Paris, onde entra em contato com o grupo surrealista. É desse período que datam suas obras mais conhecidas, marcadas pela busca incessante por novas técnicas expressivas, bem como pelo simbolismo alusivo à psicanálise freudiana.

Algumas de suas criações mais notórias são O Elefante Celebes (1921) e Oedipus Rex (1922).

Literatura

Os surrealistas defenderam uma ótica particular para interpretar o mundo natural e o das ações humanas. Esta ótica também explicava a função da poesia e da arte, de uma forma totalmente liberta do predomínio da razão.

As obras literárias Os Cantos de Maldoror, do Conde de Lautréamont, e o poema O Barco Ébrio, de Arthur Rimbaud, são apontadas por vários especialistas como as principais obras que antecedem o surrealismo. Nelas já se percebe a exploração intencional do e do inconsciente, características do surrealismo.

Entre os principais autores surrealistas, podemos destacar:

• André Breton: Manifesto do Surrealismo (1924), Nadja (1928).

• Louis Aragon: Anicet ou o Panorama (1921), Le Paysan de Paris (1926).

• Philippe Soupault: Os Campos Magnéticos (1920), Le Nègre (1927).

• Paul Éluard: Poèmes à Lou (1920), Capitale de la Douleur (1926).

• Benjamin Péret: Le Passager du transatlantique (1921), Dormir debout (1923).

Outros artistas e obras

• Luis Buñuel: cineasta espanhol, considerado o pai do cinema surrealista. Seus filmes exploram temas como o sonho, o desejo, a sexualidade e a crítica social. Obras: Un Chien Andalou (1929), L'Âge d'Or (1930), Viridiana (1961), O Anjo Exterminador (1962).

• Germaine Dulac: cineasta francesa conhecida por seus filmes experimentais e pela utilização de técnicas surrealistas. Obras: La Souriante Madame Beudet (1923), Thèmes et Variations (1928), La Coquille et le Clergyman (1928).

• Hans Arp: artista franco-alemão que criou esculturas abstratas biomórficas. Obras: Tête et coquillage (1927), Concrétion humaine (1930), Feuille d'acanthe (1937).

• Alberto Giacometti: escultor suíço conhecido por suas figuras finas e alongadas. Obras: L'Homme qui marche (1960), Femme de Venise IV (1956), La Cage (1950).

Origem e contexto histórico do Surrealismo

A origem do termo "surrealismo" ocorreu em 1917, por meio de Guillaume Apollinaire, que significa "o que está acima do realismo". Apesar disso, enquanto movimento artístico e literário, só surgiu em França na década de 1920.

O surrealismo tinha como objetivo ultrapassar os limites da imaginaçãoestabelecidos pelo pensamento burguês, bem como a tradição do pensamento lógico e os ideais artísticos em vigor desde o Renascimento.

O movimento surrealista evoluiu, apesar de ter estado em risco de ser exterminado, ao surgirem manifestações contrárias baseadas no anarquismo. Muitos pensadores do movimento trocavam acusações, afirmando que não seguiam os propósitos do surrealismo.

Apesar deste clima de tensão, o surrealismo prosperou, influenciando o pensamento contemporâneo. Criou uma nova concepção do mundo e do ser humano, além de uma mudança relevante nos processo artísticos.

Alguns estudiosos afirmam que o surrealismo esteve em processo de gestação até 1924, quando surgiu o Manifesto do Surrealismo, de autoria de André Breton.

Em substituição do sistema de valores que pretendiam abolir, os dadaístas e os primeiros surrealistas recorreram às teorias psicanalíticas, de recente difusão, para formular um novo pensamento poético.

Com o início da II Guerra Mundial, os surrealistas se espalharam e pouco tempo depois o movimento foi disseminado pela Europa, apesar das divergências de opiniões e posições políticas entre os membros.

Surrealismo no Brasil

No Brasil, as noções surrealistas começaram a surgir entre 1920 e 1930, por elementos que participaram da Semana de Arte Moderna de 22.

Alguns dos artistas brasileiros que abraçaram as influências surrealistas são: Tarsila do Amaral, Maria Martins, Cícero Dias, Ismael Nery, entre outros. Já na literatura, alguns nomes que se destacam são Murilo Mendes, Aníbal Machado e Mário Pedrosa.

Resumo sobre o Surrealismo

Bibliografia:

• CARPEAUX, Otto Maria. As revoltas modernistas na literatura. Rio de Janeiro, Ediouro, 1968.

• GUINSBURG, J. & LEIRNER, Sheila. O Surrealismo. São Paulo, Ed. Perspectiva, 2008.

Veja também:

• Características do Surrealismo

• Dadaísmo

• Características do Dadaísmo