Torá: o que é e significado do livro sagrado do judaísmo
A Torá compõe os 5 primeiros livros do livro sagrado da religião judaica e tem origem no termo hebraico Yará, que significa ensinamento, instrução ou lei.
É considerada um guia para os judeus, com 613 mandamentos que ensinam como devem ou não agir, seja nas relações sociais, familiares, religiosas, por exemplo.
A Torá conta desde a história da criação do mundo por Deus, até a chegada do povo judeu em Israel e a morte de Moisés no monte Nobe. É composta por cinco livros e são equivalentes ao pentateuco, os cinco primeiros livros da bíblia cristã. São eles:
- Bereshit, conhecido também como Gênesis;
- Shemot, conhecido também como Êxodo;
- Vayikrah, conhecido também como Levítico;
- Bamidbar, conhecido também como Números;
- Devarim, conhecido também como Deuteronômio.
Existem dois tipos de Torá: a escrita, onde constam os 613 mandamentos escritos, e a oral, que é o conjunto de instruções que ensinam como cumprir os mandamentos da Torá escrita.
Dentre esses 613 mandamentos, 248 são considerados os ensinamentos positivos, que guiam o povo judeu ao que deve ser feito e os outros 365 são ensinamentos considerados negativos, que os instruem ao que não deve ser feito
Os judeus consideram que Moisés escreveu a Torá através dos ensinamentos do Deus de Israel, passados diretamente para ele. Essa revelação de Deus a Moisés aconteceu 50 dias após a libertação do povo judeu da escravidão que sofriam no Egito.
Ao sair do Egito, os judeus peregrinaram durante quarenta anos pelo deserto em direção a chamada Terra Prometida, onde se localiza Israel.
Ao longo desse tempo, Moisés foi o responsável por transcrever os ensinamentos recebidos por Deus e transmiti-los aos profetas da época e ao povo judeu. Por isso, a Torá também é chamada pelos judeus como Torat Moshé, a Lei de Moisés, considerado o maior profeta pela tradição judaica.
Para as leituras públicas da Torá, os judeus dividem os livros em pequenas seções e iniciam a leitura em ordem, começando por Gênesis e terminando em Deuteronômio.
Ao dividir o livro, os pequenos trechos são lidos três vezes ao longo da semana, dentro das Sinagogas, em dias específicos:
- às segundas e quintas-feiras são lidas pequenas seções,
- e a leitura principal acontece nas manhãs de sábado, um dia sagrado para os judeus, chamado pela tradição judaica de Shabat.
Esses rolos de Torá, distribuídos em pergaminhos, são chamados de Sefer Torá e são os objetos mais sagrados do judaísmo.
A origem e história da Torá
Os ensinamentos que compõe a Torá, foram enviados por Deus a Moisés no alto do Monte Sinai, durante o êxodo do povo judeu, que aconteceu entre 1300 e 1250 a.C.
Durante cerca de 400 anos, os hebreus (antepassados dos judeus) foram escravizados no Egito e, libertos com a ajuda de Moisés, peregrinaram no deserto em direção à Terra Prometida por Deus, onde construiriam sua nação, que se chamaria Israel.
Segundo a tradição judaica, Deus falou diretamente com Moisés, quando este subiu no topo do chamado Monte Sinai, onde ficou por 40 dias e 40 noites recebendo os novos ensinamentos que Deus queria passar ao povo judeu.
Para os judeus, Moisés foi o profeta escolhido por Deus para transmitir esses ensinamentos aos outros profetas, como Josué, e para todo o povo de Israel. Por esse motivo, é considerado o maior profeta para o judaísmo.
O conteúdo da Torá
Os cinco livros que compõem a Torá contam a história desde a criação do mundo por Deus, até a morte do profeta Moisés. A estrutura da Torá se divide da seguinte maneira:
Primeiro livro: Gênesis
O primeiro livro da Torá, intitulado de Bereshit, tem sua história dividida em quatro partes. A primeira conta sobre a criação do mundo por Deus, os primeiros seres da terra, até o chamado do profeta Abraão por Deus.
A segunda parte desenvolve a história de Abraão, como ele cumpriu o seu chamado por Deus e ficou conhecido como um dos maiores profetas. A terceira e a quarta parte da história desenvolvem a narrativa de Jacó, até a ida do seu filho José para o Egito, onde se tornou governador.
O final do livro de gênesis foca em apresentar a trajetória do povo judeu até as terras egípcias, onde mais tarde seriam escravizados.
Segundo livro: Êxodo
Shemot, o segundo livro, é dividido em três partes principais. A primeira delas, conta como foi a libertação dos judeus, que eram escravizados há mais de 400 anos no Egito. Essa libertação foi feita por Moisés que intercedeu pelo povo, através de um chamado de Deus.
Depois de saírem do Egito, a segunda parte do livro descreve quando Moisés subiu ao topo do Monte Sinai e recebeu os ensinamentos de Deus, chamados de Os 10 Mandamentos ou Os 10 Ditos. São eles:
- Eu sou o Eterno teu D'us que te tirou do Egito.
- Não terás outros deuses e estátuas diante de Mim.
- Não jurarás no nome de D'us em vão.
- Lembrarás e respeitarás o dia do Shabat.
- Honrarás teu pai e tua mãe.
- Não matarás.
- Não cometerás adultério.
- Não roubarás.
- Não darás falso testemunho.
- Não cobiçarás.
Os judeus acreditam que o próprio Deus escreveu com os dedos nas tábuas de pedra que Moisés levou para apresentar ao povo.
Após receber estes mandamentos, a terceira e última parte do livro conta o início da peregrinação do povo judeu no deserto, em direção à Terra Prometida por Deus.
Leia mais sobre os 10 Mandamentos de Deus.
Terceiro Livro: Levítico
Vayikrah, o terceiro livro, fala sobre a construção de um tabernáculo, um templo móvel, feito pelo povo com a ajuda de Moisés, para cultuar a Deus ao longo da peregrinação no deserto.
O livro também conta sobre o chamado de Deus a Moisés para repetir ao povo os seus 10 Mandamentos, fazendo uma nova aliança com os judeus. Além de novos ensinamentos sobre como se portar no templo e como fazer as ofertas no tabernáculo.
Quarto livro: Números
O livro Bamidbar conta a história da nova aliança feita com Deus com os judeus e a preparação para a nova direção até a Terra Prometida.
Porém, ao longo do caminho, o povo reclamou com Deus sobre as condições para chegar até à Terra e, ao ouvir as histórias que os espiões contaram sobre as condições e os habitantes do local, desistiram de apossar a Terra Prometida.
Sendo assim, Deus condena o povo a padecer no deserto até que uma nova geração surgisse e pudesse assumir de vez Israel.
Quinto livro: Deuteronômio
Devarim, o último livro do Torá, discorre sobre os últimos sermões de Moisés ao povo judeu. Nele se fala como Moisés recapitulou toda a peregrinação do povo no deserto até chegar à Terra Prometida.
Moisés também lembra ao povo sobre Os 10 Mandamentos e a importância de segui-los para a conquista da Terra e sobre a misericórdia de Deus com o povo, mesmo diante da desobediência.
Nos últimos capítulos, a Terra prometida é conquistada pela nova geração de judeus. Moisés, então, morre no monte Nebo e é sucedido pelo profeta Josué, escolhido por Deus para orientar os judeus em seu lugar.
Veja também: Judaísmo
A diferença entre o Talmude e a Torá
Enquanto a Torá compõe os ensinamentos de Deus ao povo, o Talmude é um livro judeu composto pelos sermões, debates e discussões entre os rabinos, lideres da religião judaica, quanto aos ensinamentos que eram dados na Torá oral.
Enquanto a Torá são as instruções e leis seguidas pelos judeus, o Talmude auxilia na compreensão e interpretação desses ensinamentos.
O Talmude foi criado porque os ensinamentos eram passados ao povo Judeu através da Torá oral. E ao discutirem sobre essas instruções, os rabinos temiam que o conteúdo dessas conversas se perdessem. Por isso, decidiram escrevê-los, formando o Talmude.
O conteúdo do Talmude
O Talmude cita e explica com profundidade todos os 613 mandamentos contidos na Torá Escrita. Essas explicações são feitas a partir da discussão de diferentes opiniões dos rabinos.
Esses debates tratam de temas religiosos, comerciais, familiares e sociais e são organizados em perguntas e respostas, de modo que o aprendizado aconteça por meio do questionamento.
É o livro mais estudado nas yeshivás, casas de estudo onde os judeus costumam passar até 15 horas diárias dedicados a leituras e discussões sobre os ensinamentos judaicos.
Qual a relação entre a Torá e a Bíblia Cristã?
Os cinco livros que compõe a Torá fazem parte da Bíblica Hebraica e também estão presentes na Bíblia Cristã. Porém, na Bíblia Cristã é nomeado de Pentateuco, fazendo referência aos 5 primeiros livros do Antigo Testamento. São eles:
- Gênesis;
- Êxodo;
- Levítico;
- Números;
- Deuteronômio.
A Torá é escrita em hebraico com alguns trechos em aramaico, a língua nativa dos judeus. Já a bíblia cristã já foi traduzida integralmente do hebraico e do grego para mais de 400 idiomas.
Os judeus consideram que essa tradução pode ser imprecisa, alterando o conteúdo dos textos de alguma forma.
O Novo Testamento da bíblia cristã não é aceito pelo judaísmo. Isso porque essa parte da bíblia cristã conta a história de Jesus Cristo, que para os cristãos é considerado o messias prometido por Deus.
Para o judaísmo, Jesus Cristo é um falso messias, já que o povo judeu ainda aguarda a vinda do messias prometido por Deus.
Por isso, para os judeus, a bíblia sagrada, mesmo tendo suas semelhanças com os livros da Torá, é apenas o livro de outra religião.
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