Verbos: o guia completo com exemplos

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

O verbo é a palavra que expressa ações, estados e fenômenos da natureza. É, portanto, uma das classes gramaticais mais importantes da língua portuguesa.

Exemplos:

  • "Maria correu pelo parque durante a manhã." (ação)
  • "João estava cansado após o trabalho." (estado)
  • "Choveu forte durante a madrugada." (fenômeno da natureza)

O verbo é caracterizado por sofrer diversas variações (flexões). São elas: de número, pessoa, modo, tempo e voz.

  • Número: singular ou plural.
  • Pessoa: primeira, segunda ou terceira.
  • Modo: indicativo, subjuntivo ou imperativo.
  • Tempo: presente, passado (pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito) ou futuro (do presente ou do pretérito).
  • Voz: ativa, passiva ou reflexiva.

Existem diversos tipos de verbos, cada um com suas particularidades:

  • Verbos transitivos precisam de um complemento (direto ou indireto) para completar seu sentido.
  • Verbos intransitivos têm sentido completo e não precisam de complemento.
  • Verbos regulares: seguem um padrão de conjugação.
  • Verbos irregulares: apresentam alterações no radical ou na desinência.
  • Verbos defectivos: não se conjugam em todas as pessoas, números e tempos.
  • Verbos abundantes: possuem mais de uma forma para expressar o mesmo tempo e modo.
  • Verbos auxiliares: auxiliam na formação de tempos compostos e locuções verbais.

As formas nominais do verbo são aquelas que, embora derivadas do verbo, exercem função de nome na oração. São elas:

  • Infinitivo: forma base do verbo.
  • Gerúndio: indica ação em progresso.
  • Particípio: indica ação concluída ou passiva.

Neste artigo você encontrará:

  1. Estrutura do verbo
  2. Flexões do verbo
  3. Formas nominais do verbo
  4. Tipos de verbo
  5. Exercícios

Verbo

Estrutura do verbo

A estrutura do verbo é composta por três elementos principais: o radical, a vogal temática e as desinências. Cada um desses elementos desempenha um papel específico na conjugação e no significado do verbo.

Radical

O radical é a parte do verbo que contém o significado principal da palavra. Ele é a base sobre a qual são adicionadas as demais partes do verbo. Permanece invariável em muitas das formas conjugadas do verbo, embora possa sofrer alterações em verbos irregulares.

Exemplos:

  • "falar": fal-
  • "correr": corr-
  • "escrever": escrev-

Vogal temática

A vogal temática é a vogal que segue o radical e indica a conjugação a que o verbo pertence. Na língua portuguesa, os verbos são divididos em três conjugações, cada uma caracterizada por uma vogal temática específica:

  • 1ª conjugação: verbo termina em -ar. ("cantar")
  • 2ª conjugação: verbo termina em -er. ("vender")
  • 3ª conjugação: verbo termina em -ir. ("partir")

Desinências

As desinências são morfemas que se juntam ao radical e à vogal temática para indicar as flexões do verbo. Existem dois tipos principais de desinências: modo-temporal e número-pessoal.

  • Desinência modo-temporal: indica o tempo (presente, passado, futuro) e o modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) do verbo. Ela é responsável por situar a ação verbal no tempo e expressar a atitude do falante em relação à ação.
  • Desinência número-pessoal: indica a pessoa (1ª, 2ª, 3ª) e o número (singular ou plural) do sujeito que pratica a ação verbal.

Exemplos:

1. "Cantávamos"

  • Desinência modo-temporal: -ava- (indica o pretérito imperfeito do indicativo)
  • Desinência número-pessoal: -mos (indica a 1ª pessoa do plural)

2. "Venderás"

  • Desinência modo-temporal: -erá- (indica o futuro do presente do indicativo)
  • Desinência número-pessoal: -s (indica a 2ª pessoa do singular)

3. "Partimos"

  • Desinência modo-temporal: -i- (indica o presente do indicativo)
  • Desinência número-pessoal: -mos (indica a 1ª pessoa do plural)

Flexões do verbo

Os verbos sofrem várias flexões, isto é, alterações feitas no radical ou nas desinências para indicar diferentes circunstâncias. Podem ser de número, pessoa, modo, tempo e voz.

Flexões de número e pessoa

Os verbos variam em número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda e terceira):

singular plural
1ª pessoa eu amo nós amamos
2ª pessoa tu amas vós amais
3ª pessoa ele ama eles amam

Modos verbais

Os modos verbais são as diferentes formas do verbo para indicar as maneiras de um fato se realizar.

1. Modo indicativo: exprime um fato exato. Só há uma possibilidade: a apresentada. É o modo da informação.

Exemplos:

  • "Vou hoje."
  • "Amei aquela mulher."
  • "Iremos ao futebol com Josué."

2. Modo subjuntivo: indica um fato possível, duvidoso, hipotético. É o modo subjetivo.

Exemplos:

  • "É provável que faça bom tempo."
  • "Se você dissesse a verdade…"
  • "Quando eu te pegar…"

2. Modo imperativo: expressa ordem, proibição, pedido, conselho, súplica.

Exemplos:

  • "Deixa-nos em paz!"
  • "Vem, minha flor-de-maracujá!"
  • "Estudai, estudai meus filhos!"

Tempos verbais

Existem três tempos: presente, passado (ou pretérito) e futuro. Os tempos verbais podem ser simples ou compostos e estão enquadrados nos três modos verbais: indicativo, subjuntivo e imperativo.

Indicativo simples

  • Presente do indicativo. ("eu amo")
  • Pretérito perfeito do indicativo. ("eu amei")
  • Pretérito imperfeito do indicativo. ("eu amava")
  • Pretérito mais-que-perfeito do indicativo. ("eu amara")
  • Futuro do presente do indicativo. ("eu amarei")
  • Futuro do pretérito do indicativo. ("eu amaria")

Indicativo composto

  • Pretérito perfeito composto do indicativo. ("tenho amado")
  • Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo. ("havia amado")
  • Futuro do presente composto do indicativo. ("terei amado")
  • Futuro do pretérito composto do indicativo. ("teria amado")

Subjuntivo simples

  • Presente do subjuntivo. ("que eu ame")
  • Pretérito imperfeito do subjuntivo. ("se eu amasse")
  • Futuro do subjuntivo. ("quando/se eu amasse")

Subjuntivo composto

  • Pretérito perfeito composto do subjuntivo. ("que eu tenha amado")
  • Pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo. ("se eu tivesse amado")
  • Futuro composto do subjuntivo. ("quando eu tiver amado")

Imperativo

  • Imperativo afirmativo. (ama tu)
  • Imperativo negativo. (não ames tu)

Saiba mais sobre tempos verbais.

Vozes verbais

As vozes verbais indicam se o sujeito da frase pratica ou sofre a ação. São três as vozes verbais: ativa, passiva e reflexiva.

1. Voz ativa: quando o sujeito da frase pratica ação, temos a voz ativa.

Exemplos:

  • "Fiz as compras do mês."
  • "Comeram todos os doces."
  • "João dormiu cedo."

2. Voz passiva: quando o sujeito gramatical sofre a ação, temos a voz passiva. Neste caso, o sujeito é chamado “paciente” de uma ação praticada pelo “agente” da voz passiva.

Exemplos:

  • "O bife foi comido por mim."
  • "Daniela foi elogiada pela Juliana."
  • "Venderam-se os carros."
  • "Apedrejaram-se as vidraças."

3. Voz reflexiva: quando o sujeito pratica e sofre a ação simultaneamente, temos a voz reflexiva. Nela, o verbo é sempre acompanhado de um pronome oblíquo reflexivo: “me”, “te”, “se”, “nos” ou “vos”.

Exemplos:

  • "Pedro se cortou com a lâmina de barbear."
  • "Alimentou-se balanceadamente."
  • "Amaram-se por muitos anos."

Formas nominais do verbo

Além dos três modos, existem as formas nominais do verbo: infinitivo, gerúndio e particípio. Elas enunciam um fato de maneira vaga, imprecisa, impessoal.

Chamam-se “formas nominais” porque, além de verbos, podem adquirir a função de “nomes” na oração.

Infinitivo

Com a terminação “r”, o infinitivo equivale a um substantivo. Na frase “o passar dos anos”, por exemplo, “passar”, que está no infinitivo, equivale ao substantivo “passagem”.

O infinitivo pode-se substantivar, caso em que permite pluralização, como qualquer outro substantivo terminado em “r”. É o que ocorre, por exemplo, em “os deveres”, “os cantares”, “os falares”.

O infinitivo pode ser impessoal (sem flexão) ou pessoal (flexionado):

Infinitivo impessoal

Infinitivo pessoal

cantar cantar
cantares
cantar
cantarmos
cantardes
cantarem

Gerúndio

O gerúndio expressa uma ação em andamento. Com a terminação "ndo", o gerúndio equivale a um advérbio ou adjetivo.

Exemplos:

  • "Amanhecendo, procuraremos a sua casa." (função de advérbio)
  • "Água fervendo saiu do radiador." (função de adjetivo)
  • "Chovendo, cancelaremos o piquenique." (função de advérbio)

Particípio

O particípio expressa uma ação concluída. Equivale a um adjetivo.

Exemplos:

  • "Querida companheira…"
  • "A deputada eleita discursou."
  • "Rapazes atrapalhados, aqueles."

Tipos de verbos

Os verbos podem ser classificados em vários tipos, de acordo com critérios semânticos (relacionados ao significado) e morfológicos (relacionados à forma).

Verbos transitivos

Um verbos transitivo é aquele que admite o complemento direto, complemento indireto ou complemento direto e indireto. Neste caso, o conteúdo semântico do verbo transita para o complemento em questão.

Exemplos: "comprar", "oferecer", "escrever", "contar", "dar".

Verbos intransitivos

Os verbos intransitivos não necessitam de complemento direto ou indireto. Neste caso, o conteúdo semântico do verbo não transita para o complemento.

Exemplos: "dormir", "cair", "chegar", "morrer", "nascer".

Verbos regulares

Verbos regulares são aqueles que possuem um modelo fixo de conjugação, isto é, que não sofrem alterações no radical e nem nas terminações quando conjugado.

Exemplos: “amar”, “viver”, “partir”.

Verbos irregulares

Verbos irregulares são aqueles que não possuem um modelo fixo de conjugação, pois sofrem alterações no radical e/ou nas terminações quando conjugados.

Exemplos: “dar”, “medir”, “trazer”.

Verbos anômalos

Verbos anômalos são verbos irregulares que apresentam modificações completas em seus radicais quando conjugados. Existem dois verbos anômalos na língua portuguesa: “ser” e “ir”.

Exemplos:

  • Verbo “ser”: sou, fui, era.
  • Verbo “ir”: vou, fui, irei.

Verbos defectivos

Chamam-se defectivos os verbos de conjugação incompleta. Faltam-lhes algumas pessoas, tempos ou modos.

Exemplos: “reaver”, “precaver”, “falir”, “explodir”, “demolir”, “colorir”, “abolir”.

Verbos abundantes

São chamados abundantes os verbos que possuem alguma forma dupla. Agrupam-se entre os abundantes especialmente os verbos com dois particípios.

Exemplos:

  • Primeira conjugação: “aceitar” (aceito/aceitado), “entregar” (entregado/entregue), “enxugar” (enxugado/enxuto).
  • Segunda conjugação: “acender” (acendido/aceso), “eleger” (elegido/eleito), “morrer” (morrido/morto).
  • Terceira conjugação: “frigir” (frigido/frito), “omitir” (omitido/omisso), “imprimir” (imprimido/impresso).

Veja mais sobre Classificação dos verbos

Exercícios

1. Em todas as frases, os verbos estão na voz ativa, exceto em:

a) Ele, que sempre vivera órfão de afeições legítimas e duradouras, como então seria feliz!…

b) O quinhão de ternura que a ela pretendia, estava intacto no coração do filho.

c) Os dois quadros tinham sido ambos bordados por Mariana e Ana Rosa, mãe e filha.

d) E dizia as inúmeras viagens que tinha feito até ali; contava episódios a respeito do boqueirão.

e) Sobre a banca de Madalena estava o envelope de que ele tinha falado.

2. “Acesas” é particípio adjetivo de “acender”, verbo chamado abundante, porque possui dupla forma de particípio (acendido e aceso). Em abundância, que é geralmente do particípio, em alguns verbos ocorre em outras formas. Assim, por exemplo, é o caso de:

a) coser

b) olhar

c) haver

d) vir

e) dançar

3. Assinale a série em que estão devidamente classificadas as formas verbais destacadas: “Ao chegar da fazenda, espero que já tenha terminado a festa”.

a) futuro do subjuntivo, pretérito perfeito do subjuntivo

b) infinitivo, presente do subjuntivo

c) futuro do subjuntivo, presente do subjuntivo

d) infinitivo, pretérito imperfeito do subjuntivo

e) infinitivo, pretérito perfeito do subjuntivo

RESPOSTAS: 1 c), 2 c), 3 b)

Bibliografia:

  • CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo, Companhia Editora Nacional. 2009.
  • CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro, Lexikon, 2013.
  • TELLES, V. T. Curso prático de redação e gramática aplicada. Curitiba, Bolsa Nacional do Livro, 1984.

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
Outros conteúdos que podem interessar